O ex-ministro Paulo Bernardo, que foi titular do Planejamento no governo Lula (de 2005 a 2011), negou à Comissão Parlamentar de Inquérito do BNDES, nesta segunda-feira (17), que tenha recebido propina para facilitar um empréstimo de um US$ 1 bilhão para Angola em 2009.
Paulo Bernardo afirmou à CPI que mais de 2.700 empresas brasileiras foram beneficiadas com os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social a Angola – que, segundo ele, chegaram a US$ 7,2 bilhões no total – e que esses empréstimos sempre foram pagos pelo país africano.
Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Paulo Bernardo afirmou que mais de 2.700 empresas brasileiras foram beneficiadas com os empréstimos a Angola
A denúncia de que ele teria recebido uma propina de 40 milhões de dólares foi feita em delação de Marcelo Odebrecht enquanto estava preso pela Operação Lava Jato. O empresário depois foi solto. Paulo Bernardo rebateu a denúncia e chegou a chamar Marcelo Odebrecht de “cabra safado”.
“Ele é um mentiroso, inventou isso, entendeu? Nunca tive esse tipo de conversa com ele, nunca daria qualquer tipo de abertura ou liberdade para conversar esse tipo de coisa. Eu tenho um processo na Justiça, nós vamos conduzir a defesa. Já sofri outras acusações e fui absolvido. Muito ruim que a maioria dos parlamentares resolve vestir uma camisa como se fosse do Ministério Público, como se fosse a parte acusadora”, reclamou.
O depoimento de Paulo Bernardo não agradou a primeira vice-presidente da CPI do BNDES, deputada Paula Belmonte (Cidadania-DF), que propôs a vinda do ex-ministro.
“Ele chegou a dizer que nós emprestamos o dinheiro diretamente para Angola. Isso faz com que eu fique muito preocupada porque, na realidade, a Odebrecht era só uma passagem do dinheiro. Então, se isso realmente for constatado, é sério, porque o dinheiro do povo não pode ser usado para empréstimos para outros países. Ele tem que desenvolver a nossa política aqui, o nosso empresariado aqui”, disse a deputada.
O relator da CPI, deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), quer saber quem está dizendo a verdade.
“Delações são homologadas e pessoas vêm aqui e desmentem essas delações. Então, isso é uma coisa interessante porque, se o ministro está falando a verdade aqui, essas delações têm que ser interrompidas, elas têm que cair, as pessoas têm que voltar a ser presas.”
O deputado José Nelto (Pode-GO) disse que vai apresentar requerimento para que seja feita uma acareação entre Marcelo Odebrecht, Paulo Bernardo e o ex-ministro Antônio Palocci.
O depoimento previsto para esta semana de José Batista Sobrinho, pai de Joesley e Wesley Batista, da empresa JBS, não vai ocorrer, pois o STF deu habeas corpus permitindo que ele não compareça. O Habeas Corpus é extensivo aos irmãos empresários. Na quarta-feira, está previsto o depoimento do ex-ministro da Fazenda no governo Dilma Rousseff Antônio Palocci. O depoimento será em sessão reservada.