O senador Otto Alencar (PSD-BA) fez um discurso de desagravo ao colega de bancada, senador Jaques Wagner (PT-BA). De acordo com informações da colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, publicadas em parceria com o site The Intercept, procuradores da Operação Lava-Jato teriam tentado fazer uma ação de busca e apreensão em sua casa, mesmo sem indícios que justificassem a medida. A intenção supostamente seria constranger o então recém-eleito senador, que era coordenador da campanha presidencial do petista Fernando Haddad.
Otto criticou a postura do Ministério Público que, comprovados os diálogos, teria planejado a ação sem “nenhuma prova material contra o ex-governador Jaques Wagner”.
— O procurador (Deltan) Dallagnol diz nas suas mensagens: “vamos fazer uma busca e apreensão simbólica”. E agora deve caber no Código Penal a busca e apreensão simbólica contra as pessoas. Isso é uma coisa contra a lei, acima da lei, acima do limite da lei, contra a Constituição. Infringiu a lei e a lei existe exatamente para limitar o poder. A Constituição existe exatamente para promover a justiça e não permitir o arbítrio — afirmou Otto.
Em aparte, os senadores também manifestaram solidariedade a Jaques Wagner. O também senador da Bahia, Angelo Coronel (PSD), afirmou ter ficado perplexo com as mensagens divulgadas pela Folha. Já a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) cobrou providências do Senado.
— Esta Casa não pode ficar neutra, é uma casa política! Hoje foi Jaques Wagner, amanhã pode ser Kátia Abreu, Davi Alcolumbre, Major Olimpio, pode ser qualquer um nesta Casa ou qualquer brasileiro. Nenhum brasileiro na face da terra merece que o Estado de direito e o devido processo legal não sejam cumpridos à risca, porque esta é a única coisa que garante a Constituição — cobrou.
O senador Humberto Costa (PT-PE) também defendeu a necessidade de o Senado adotar alguma ação institucional. O senador relatou que esse não foi o entendimento da maioria dos senadores na reunião de líderes, ocorrida nesta terça, mas cobrou que a Procuradoria-Geral da República e o Conselho Nacional do Ministério Público façam a devida apuração do caso.
Jaques Wagner agradeceu a manifestação dos colegas e lamentou a forma como as investigações estariam sendo feitas no país. Segundo Wagner, hoje não se investiga o criminoso nem o crime, mas cria-se uma teoria de que alguém é criminoso e vai-se procurar uma forma de incriminá-lo.
— As palavras ditas por aquele senhor do Ministério Público do Paraná – eu confesso –, à minha primeira leitura, me despertaram nojo, por saber que um funcionário público abandona tudo aquilo que está escrito no Texto Constitucional, nos regulamentos do exercício da função pública, e, soltando risada com aquele “kkk” no final, diz “não, mas nós precisamos encontrar alguma coisa; é preciso fazer uma busca e apreensão simbólica”. Ele nem se lembrava de que já houve, havia, no mesmo ano, uma busca e apreensão em minha residência — declarou o senador, afirmando não se colocar acima da lei nem se negar a dar esclarecimentos pedidos na investigação.
Também apoiaram a manifestação de Otto Alencar o líder do governo no Senado, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB–PE) e os senadores Antonio Anastasia (PSDB-MG), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Nelsinho Trad (PSD-MS) e Esperidião Amin (PP-SC).
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)