A CPI de Brumadinho ouviu, na tarde desta terça-feira (23), o geólogo César Augusto Paulino Grandchamp, da mineradora Vale. Na condição de representante legal da empresa, Grandchamp assinou a declaração de condição de estabilidade da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho (MG). Ele chegou a ser preso após o rompimento da barragem, no final de janeiro. Apesar de ter um habeas corpus que lhe garantia o direito de ficar em silêncio, Grandchamp respondeu às perguntas da comissão.
O relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), lembrou que Grandchamp pode até ser responsabilizado criminalmente pela tragédia, mas a CPI não quer que a responsabilidade fique apenas nos funcionários da Vale. O senador ressaltou que a CPI trabalha para que a responsabilidade alcance também os altos cargos da empresa — que, na sua visão, estaria optando pela transferência de culpa.
Carlos Viana questionou se o geólogo pressionou o operador de radar para “ficar calado” sobre possíveis erros do aparelho. Grandchamp negou e disse que “a gente ainda está aprendendo a lidar com o radar”. Ele acrescentou que não poderia demitir o operador, já que não era o chefe dele. Questionado pela senadora Juíza Selma (PSL-MT), o geólogo negou que tenha assinado o laudo sob pressão de algum superior. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) questionou se, na opinião de Grandchamp, o rompimento da barragem foi um acidente ou um crime ambiental.
— Foi uma tragédia que terminou gerando um crime ambiental. Mas sem o laudo da perícia fica muito difícil… Não tem um dia que eu não pense sobre o que ocorreu. Mais do que qualquer pessoa, eu quero saber. Não tínhamos nada que nos dissesse que a barragem estava em risco — afirmou, em tom emocionado.
Grandchamp ainda negou sua responsabilidade sobre o rompimento da barragem B1 e apontou que outras equipes de geotecnia atestam a segurança das barragens da Vale. Ele disse que a negociação sobre as auditorias de segurança não foi feita sob sua responsabilidade e registrou esperar que a perícia aponte o erro na tragédia de Brumadinho. Ao responder ao senador Kajuru, o geólogo admitiu conhecer o laudo que atestava a estabilidade da barragem que se rompeu.
— Eu nunca ouvi que a barragem B1 [do córrego do Feijão] estivesse em risco. Minha sala ficava debaixo dessa barragem. Em 33 anos de Vale, fiz grandes amigos. Muitos deles morreram lá em Brumadinho. Naquele dia, eu fui chamado a um compromisso um pouco mais cedo e terminei escapando com vida —afirmou Grandchamp.
Verdade
O geólogo ainda confirmou que a Vale está pagando seu advogado. Segundo Grandchamp, esse é um direito dos funcionários da empresa, assim como o direito a plano de saúde. A senadora Juíza Selma disse, no entanto, que nenhum funcionário tem esse direito que Grandchamp “acabou de inventar”. Ela citou um depoimento à Justiça que registra que a ideia de desativação da barragem surgiu apenas no final de 2018. Grandchamp disse, porém, que isso vem sendo pensado desde 2012.
— Tenho consciência de que tudo que fiz foi respeitando o padrão das normas e dentro da ética. Não tenho o sentimento de culpa. Tudo o que falei aqui foi estritamente a verdade — afirmou Grandchamp.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)