Nesta sexta-feira, 24 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Café. Para celebrar a data, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado lista dez de suas ações que impactam a produção paulista e nacional do grão.
São Paulo é o berço tecnológico da cafeicultura do Brasil e do exterior. Há mais de um século, a Secretaria realiza trabalhos relacionados ao desenvolvimento de pesquisas, tecnologias, inovações, além de ações de extensão rural e em prol da qualidade do café.
1. Colheita de café no pé
São Paulo é um dos Estados mais tradicionais no cultivo de café e sua produção é distribuída em duas regiões: Mogiana e Centro-Oeste. O que poucos sabem é que na capital paulista existe um dos maiores cafezais urbanos do país, com dois mil pés de café arábica plantados em sistema orgânico. O cafezal fica na sede do Instituto Biológico (IB-APTA), órgão de pesquisa ligado à Secretaria.
O público pode realizar visitas guiadas ao local, mediante agendamento. Uma vez por ano é possível participar da colheita dos grãos, durante o evento Sabor da Colheita, que será realizado neste sábado (25), a partir das 10h30. Neste dia, é possível aprender com os técnicos do IB a maneira correta de colher o grão. O evento é gratuito. A iniciativa é do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Agricultura, em parceria com a Nestlé Brasil.
2. Relevância nacional e mundial
O Brasil é o maior produtor de café do mundo e o segundo maior consumidor, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). O sucesso da cafeicultura nacional está amparado em muita pesquisa científica. O Instituto Agronômico (IAC-APTA), ligado à Secretaria, foi criado há 132 anos pelo imperador D. Pedro II para estudar a cultura.
As cultivares desenvolvidas pelo instituto ocupam aproximadamente 90% das lavouras do parque cafeeiro brasileiro e 70% do mundo. Os materiais mais plantados são as cultivares de café arábica IAC, Mundo Novo e Catuaí. Nos últimos anos as novas cultivares desenvolvidas pelo Instituto vêm sendo procuradas devido a características como resistência ou tolerância a nematoide (vermes microscópios) e a ferrugem da folha. Exemplo é o porta-enxerto IAC Obatã, que viabiliza o plantio do café arábica em áreas infestadas por nematoides.
O Programa Café do Instituto possui, atualmente, linhas de pesquisa que buscam o desenvolvimento de novas cultivares que agradem produtores rurais, indústrias de torrefação, além dos consumidores, sempre com foco na sustentabilidade econômica e ambiental.
3. Café naturalmente sem cafeína
Uma planta de café naturalmente sem cafeína existe e foi descoberta pelo IAC-APTA, em Campinas, interior paulista. Pesquisadora do Instituto, Maria Bernadete Silvarolla iniciou uma linha inovadora de pesquisa, direcionada ao desenvolvimento de cultivares de café arábica descafeinadas naturalmente.
A cientista brasileira examinou individualmente mais de 2.500 plantas vindas para o IAC da Etiópia. Em 2003, ela encontrou três plantas com 0,07% de cafeína nos grãos. A descoberta foi divulgada em 2004 na Nature, a mais importante revista de divulgação científica do mundo e teve repercussão mundial.
Apesar de a identificação da planta ter ocorrido em 2003, ainda há um longo caminho para ter no mercado este café. Isso porque para disponibilizar ao produtor rural estas plantas é preciso de anos de dedicação e estudos para se alcançar cultivares com baixa porcentagem de cafeína, mas produtivas.
4. Pesquisa sobre a casca do café
Comumente descartada na produção, a casca do café em coco é objeto de estudo do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA) para ser utilizada como ingrediente em novos produtos. Segundo o coordenador do projeto de pesquisa, Paulo Eduardo da Rocha Tavares, pesquisador que atua no Centro de Tecnologia de Frutas e Hortaliças (Fruthotec), o extrato produzido a partir da casca torrada pode ser usado em geleia, chutney e molho, cujos testes estão em andamento.
“Existe uma tendência do mercado de uso com bebida cold brew: há grande quantidade de baristas que utilizam”, explica o pesquisador. Desenvolvido por meio do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, a pesquisa trabalha com blend de cascas oriundas de café orgânico do Instituto Agronômico (IAC-APTA) e de outras propriedades do Estado, incluindo Catuaí Vermelho, de Campinas, Catuaí Amarelo, de Mococa e Divinolândia, Tupi, de Mococa, e Mundo Novo (sombra e sol), de Franca.
5. Governo e iniciativa privada em prol da inovação
O Governo do Estado de São Paulo assinou, em abril de 2019, protocolo de intenções com a Nestlé Brasil para o desenvolvimento de canudos e embalagens sustentáveis e para alavancar a produção de leite orgânico no Estado e ampliar a produção de cafés da linha premium.
A parceria com a Nestlé abre uma oportunidade de desenvolvimento de importantes áreas do agronegócio paulista. Uma delas é a aceleração e aproximação das pesquisas da Nestlé e do Programa IAC de Cafés Especiais, com a criação de uma plataforma de inovação na área e o compartilhamento de conhecimento, entre outros projetos.
6. Pesquisa e inovação
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA) e do Instituto Agronômico (IAC-APTA) desenvolveram tecnologia inédita para obtenção de ingredientes a partir da casca do café robusta, sem o uso de solventes. O ingrediente natural aquoso e seco pode ser usado como fonte de cafeína na indústria de alimentos e bebidas não alcoólicas de baixo valor calórico e energético natural, além de ter aplicação na formulação de cosméticos e fármacos naturais. O processo teve pedido de patente depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
De acordo com Gisele Anne Camargo, pesquisadora do ITAL, os produtos disponíveis atualmente no mercado como fonte de cafeína passam por processo de extração com o uso de diferentes solventes.
Além disso, não há no mercado fontes provenientes de resíduos da agroindústria do café, cultura que ocupa a segunda posição nas commodities de maior valor no mundo. “Este novo processo diminui o descarte de resíduos orgânicos e por não utilizar solvente é considerado uma ‘tecnologia verde’”, explica a pesquisadora que é também diretora da Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica (Rede NIT-APTA).
7. Pioneirismo no cálculo do custo de produção
O Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), da Secretaria, foi pioneiro no desenvolvimento de metodologia de cálculo do custo de produção da lavoura cafeeira e no estabelecimento do modelo de estimativa de rentabilidade e lucro da exploração. Essas informações são estratégicas para o agronegócio do Estado de São Paulo e de todo o país.
O IEA e a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável são também responsáveis pela previsão de safra de café no Estado de São Paulo, informação que ajuda a compor as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O IEA trabalha também no desenvolvimento de estudos direcionados aos impactos das inovações introduzidas nas lavouras, acompanhamento sistemático do mercado e análises socioeconômicas do segmento.
8. Aprender a provar para melhorar a qualidade
Saber provar o produto para melhorar sua qualidade é o foco do trabalho do Polo Regional de Monte Alegre do Sul da APTA, na região do Leste Paulista. Pesquisadores da APTA iniciaram diversas ações para que os produtores de cafés especiais da região aprendessem a degustar o café e a identificar por meio da análise sensorial os defeitos da bebida.
Iniciado em abril, o Polo realizará treinamento de duração de seis meses, ministrado por pesquisadores da APTA e também por colaboradores, a 35 cafeicultores ligados à Associação dos Produtores de Cafés Especiais do Circuito das Águas (Acecap). No curso, eles aprendem três metodologias para prova de café. Parte das degustações ocorrerão às cegas.
“Com isso, eles conseguem perceber o que é preciso melhorar na produção, agregando valor no seu produto e disponibilizando ao consumidor uma bebida de alta qualidade”, afirma Daniel Gomes, pesquisador da APTA. Os cafeicultores também receberão informações sobre cultivares, manejo, economia entre outros assuntos.
9. Extensão rural
Por meio de Planos Regionais de Desenvolvimento Rural, lideranças do setor da cafeicultura diagnosticaram que entre as principais dificuldades enfrentadas pelos cafeicultores paulistas estão: deficiência na gestão do negócio, mão de obra pouco qualificada e reduzida, lavouras com espaçamentos que não permitem a colheita mecanizada, baixa qualidade do café colhido e falta de organização dos produtores.
Diante deste cenário, a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável, órgão de extensão rural da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, apoia a expansão da atividade e o fortalecimento dos pequenos produtores, intensificando suas ações. Entre elas a promoção de Dias de Campo, seminários, palestras; implementação de Unidades Demonstrativas; e capacitação de técnicos das Regionais, onde a atividade tem grande importância econômica.
10. Selo de qualidade
São Paulo tem dois selos que atestam a qualidade do café paulista. Os Selos Café Gourmet e Café Superior definem normas de padrões de qualidade para café torrado em grão e torrado e moído, como parte do Sistema de Certificação de Qualidade de Produtos do Agronegócio Paulista.
Criados pelo Governo do Estado em 1999, os selos têm o objetivo de certificar a qualidade em uma verificação de todo o processo produtivo, dentro do princípio conhecido como “da semente ao prato”, oferecendo produto com características especiais ao consumidor e aumentando a competitividade do agronegócio paulista nos mercado interno e externo. A adesão ao projeto é voluntária e as normas são estabelecidas pela Secretaria de Agricultura, representantes das cadeias produtivas reunidas nas Câmaras Setoriais, especialistas de universidades e outros técnicos interessados.