Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente e Marília, investiga a relação entre a prevalência da obesidade em adolescentes e os riscos ligados a doenças cardiovasculares.
Vale destacar que o número de adolescentes obesos aumentou em escala global nos últimos 40 anos. Nos países desenvolvidos, a taxa de obesidade nesse grupo cresceu entre 30% e 50% por década, de acordo com estudos recentes.
Esse aumento mundial na prevalência da obesidade em adolescentes tem chamado a atenção de órgãos de saúde em razão do maior risco de desenvolverem fatores de risco associados à doença cardiovascular. Assim, os pesquisadores da Unesp, em colaboração com colegas da Kennesaw State University, dos Estados Unidas, e da Faculdade de Juazeiro do Norte, no Ceará, constataram em testes de desempenho cardíaco que adolescentes com sobrepeso apresentaram resultados muito parecidos ao de adolescentes obesos.
Apoio
Resultado de um projeto de pesquisa apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o estudo foi publicado na revista Cardiology in the Young.
“Até recentemente, o sobrepeso na adolescência não era considerado um fator de risco tão importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como é a obesidade. Constatamos que os riscos em ambas as condições são parecidos”, afirma Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp de Marília e coordenador da pesquisa, à Agência Fapesp.
Os pesquisadores dividiram, em dois grupos, 40 adolescentes, com idade entre 10 e 17 anos, com meninos e meninas na mesma proporção e com diferentes valores de escore-z (uma escala usada no diagnóstico nutricional de crianças e adolescentes baseada no número de desvios padrão acima ou abaixo da média da população na mesma idade).
O primeiro grupo foi composto por adolescentes com sobrepeso, classificados pelo escore-z com um a dois desvios padrão acima (+ 1 e +2), e o segundo grupo por adolescentes obesos, identificados pelo escore-z com desvios padrão acima de dois.
Exercícios
Os jovens foram submetidos a um protocolo de exercício físico moderado, de caminhada por 20 minutos em uma esteira sem inclinação, que exigia 70% da frequência cardíaca máxima estimada para a faixa de idade.
A variabilidade da frequência cardíaca dos adolescentes foi medida antes e depois do exercício, a fim de avaliar a velocidade de recuperação cardíaca autonômica na sequência da atividade física. Essa medida permite analisar o risco de uma pessoa apresentar uma complicação cardiovascular imediatamente após uma atividade física e estimar o risco de vir a ter uma doença cardiovascular no futuro.
Durante os primeiros segundos de um exercício físico, há uma redução da atividade do sistema nervoso parassimpático – responsável por estimular ações que relaxam o corpo, como desacelerar os batimentos cardíacos. Já após os primeiros 50 a 60 segundos do esforço físico há um aumento da atividade do sistema nervoso simpático – estimulando ações de resposta a situações de estresse, como a aceleração dos batimentos cardíacos, por meio dos efeitos da adrenalina.
Frequência
Estudos publicados nos últimos anos indicaram que, quanto maior o tempo que esse sistema nervoso autônomo demora para se estabilizar após o exercício e, consequentemente, recuperar a frequência cardíaca normal, maior também é a predisposição para o desenvolvimento de uma doença cardiovascular ou metabólica, salienta o coordenador da pesquisa.
“A recuperação mais lenta do controle autonômico da frequência cardíaca após um exercício físico sugere que a pessoa apresenta risco elevado de desenvolver uma doença cardiovascular”, explica o professor Vitor Engrácia Valenti.
Comparação
As análises da variabilidade da frequência cardíaca dos adolescentes com sobrepeso e os obesos revelaram que não houve diferença significativa entre eles. Os resultados das análises estatísticas também indicaram que não houve diferença na variabilidade da frequência cardíaca das meninas em comparação com a dos meninos.
“A média das variáveis do sistema nervoso autônomo foi praticamente igual para os dois grupos de adolescentes, independente do sexo”, destaca o pesquisador.
“Essas evidências sugerem que os adolescentes com sobrepeso têm a mesma predisposição, ou uma vulnerabilidade muito parecida com a de obesos, de desenvolver uma doença cardiovascular, como hipertensão e insuficiência cardíaca, além de distúrbios metabólicos, como diabetes, dislipidemia e alterações nos níveis de triglicérides e de colesterol LDL”, aponta.
O artigo Autonomic responses induced by aerobic submaximal exercise in obese and overweight adolescents, de Franciele M. Vanderlei, Larissa R. L. Monteiro, Eli Carlos Martiniano, Yasmim M. de Moraes, Luana B. Mangueira, Guilherme C. Alcantara, José Ramon A. da Silva, Cicero Jonas R. Benjamim, Fernando R. Oliveira e Vitor E. Valenti, pode ser lido na revista Cardiology in the Young.