O cineasta Carlos José Fontes Diegues, o Cacá Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo, disse estar se sentindo muito bem e tranquilo hoje (12), dia de sua posse como novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).
“Para mim, a academia não é uma medalha de honra, uma coisa de vaidade. A Academia é um lugar de concentração da cultura, de proteção da memória cultural mas, ao mesmo tempo, de provocação cultural, ou seja, de você criar elementos que permitam à cultura brasileira se desenvolver. É isso que eu vou tentar fazer”, afirmou à Agência Brasil.
Nascido no dia 19 de maio de 1940, em Maceió (AL), Cacá Diegues foi eleito no dia 30 de agosto do ano passado para a cadeira número 7, sucedendo ao cineasta Nelson Pereira dos Santos, que morreu no dia 21 de abril de 2018. A solenidade será realizada às 21 horas, no Salão Nobre do Petit Trianon, localizado na Avenida Presidente Wilson, região central do Rio de Janeiro.
Cacá Diegues venceu dez concorrentes: Conceição Evaristo, Pedro Corrêa do Lago, Raul de Taunay, Remilson Soares Candeia, Francisco Regis Frota Araújo, Placidino Guerrieri Brigagão, Raquel Naveira, José Itamar Abreu Costa, José Carlos Gentili e Evangelina de Oliveira. Dos atuais 39 membros da ABL, apenas cinco são mulheres.
Cinema
A maioria dos filmes que Diegues foi selecionada por grandes festivais internacionais, como Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, e exibida comercialmente na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, o que o torna um dos cineastas brasileiros mais conhecidos no mundo. O filme mais recente, O Grande Circo Místico, baseado em poesia de Jorge de Lima, é o décimo oitavo de sua filmografia e traz de novo à cena o realismo mágico, contando a história de cinco gerações de uma família circense, dona do circo.
Após a promulgação do AI-5, durante o regime militar, Diegues exilou-se na Itália e depois na França. Foi casado com a cantora Nara Leão, da qual se separou em 1977, e com quem teve dois filhos: Isabel e Francisco. Desde 1981, é casado com a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães, com quem teve a filha Flora.
Continuidade
Para o presidente da ABL, Marco Lucchesi, o dia hoje é de grande alegria. “É um sinal de transição. É o momento de renovação da academia e um momento que se completa”, disse, referindo-se ao ocupante anterior da cadeira 7, Nelson Pereira dos Santos. “É sempre uma grande emoção, porque ouviremos do Cacá, como é praxe na Casa para aquele que sucede o companheiro anterior, prestar-lhe uma homenagem. Portanto, é um sentimento de uma despedida que se completa de modo total e que se renova com a presença luminosa de Cacá Diegues”.
Marco Lucchesi chamou a atenção para o fato de Diegues e Nelson Pereira dos Santos terem sido grandes amigos e igualmente cineastas. Explicou que, normalmente, a Academia Brasileira de Letras não tende a designar uma cadeira como pertencendo a uma geografia brasileira ou a um destino específico ou vocação. “Raras vezes isso tem acontecido.” Desta vez, entretanto, aconteceu de um cineasta suceder a outro. “Para nós, é motivo de uma continuidade dentro do processo de renovação, porque ambos escreveram com a luz; são poetas que escrevem com a luz, tanto Nelson como Carlos Diegues. A gente está muito feliz com isso, sem dúvida”, concluiu o presidente da ABL.
Roteiro
Cacá Diegues será recebido, em nome da ABL, pelo acadêmico, poeta e tradutor Geraldo Carneiro, depois de discursar na tribuna. Em seguida, assinará o livro de posse. O presidente da ABL, Marco Lucchesi, convidará então o acadêmico Merval Pereira para fazer a aposição do colar no novo imortal. Caberá ao acadêmico José Sarney entregar a espada, enquanto o também acadêmico Zuenir Ventura será convidado a entregar o diploma. Após esses atos, Lucchesi declarará empossado o novo acadêmico.
Os ocupantes anteriores da cadeira 7 foram: Valentim Magalhães, fundador, que escolheu como patrono o poeta Castro Alves; seguindo-se Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.