Deputados de partidos de oposição criticaram, no Plenário da Câmara, o anúncio de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, determinou ao Ministério da Defesa que sejam feitas comemorações aos 55 anos do dia 31 de março de 1964, data de instauração da ditadura militar no Brasil.
O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) disse que vai apresentar um requerimento de informações para saber os termos da orientação do presidente da República aos quartéis e os custos das celebrações. “E vamos entrar junto à Corte Interamericana com um questionamento, porque há uma posição clara sobre os Estados que promovem e difundem a ditadura. Quem defende ditadura não tem moral para criticar Nicolas Maduro e a Venezuela”, disse.
Para o líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS), celebrar a implantação da ditadura no Brasil é equivalente a um partido de extrema direita alemão propor um ato em homenagem a Adolph Hitler. “Somente uma figura com tamanha irresponsabilidade diante da democracia para exaltar a ditadura, os seus mortos, os seus perseguidos, o golpe que o nosso País viveu”, declarou.
A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que o seu partido repudia a atitude de Bolsonaro e o acusou de transformar a Presidência em um “posto de adoração à tortura e a ditadores do Brasil e do mundo”, referindo-se a declarações elogiosas feitas por Bolsonaro aos ex-presidentes Augusto Pinochet, do Chile, e Alfredo Stroessner, do Paraguai.
O líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), também criticou a decisão de Bolsonaro, fazendo menção a Ulysses Guimarães, que dá nome ao Plenário da Câmara. “Em um discurso, Ulysses disse que traidor da Constituição é traidor da Pátria. Temos ódio à ditadura”, afirmou.
Para o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), a retirada de um presidente do cargo, o fechamento do Congresso e a morte de militantes como o jornalista Vladimir Herzog não podem ser objeto de comemoração. “Não há coisa mais grave que aconteceu no País na sua história do que a ditadura. Centenas de pessoas foram mortas, outras foram banidas e exiladas”, lembrou.
Defesa
Correligionários do presidente Jair Bolsonaro saíram em defesa das comemorações ao golpe militar. Segundo o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), a população foi às ruas para pedir a deposição do então presidente, João Goulart, contra uma ameaça comunista.
Carlos Jordy chamou o golpe de 64 de contrarrevolução. “Um momento em que o Brasil passava pela ameaça comunista, em que se tentou implantar, neste País, a ditadura do proletariado financiada pela União Soviética e treinada em Cuba”, afirmou.
É a mesma linha defendida pelo deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), que invocou a memória de Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em 2008 por sequestro e tortura durante o período em que chefiou o DOI-Codi do 2º Exército (São Paulo), órgão encarregado da repressão a grupos de oposição à ditadura militar.