KAMILA MARINHO
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Em reunião ordinária semipresencial nesta quarta-feira (1/9), a Comissão de Educação, Cultura e Esportes recebeu educadores da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Monteiro Lobato, que relataram ameaças que a Escola está recebendo desde 2018. São intimidações relacionadas a questões de equidade de gênero, desencadeadas após divulgação de um vídeo feito por um pai de aluno em suas redes sociais. O caso aconteceu em 2018, mas as repercussões voltaram à tona recentemente.
Presente à reunião, a diretora da EMEI, Maria Cláudia Vieira Fernandes, publicou uma carta aberta no mês de agosto sobre o assunto. Ela afirma que a Escola segue as diretrizes do Currículo da Cidade. Leia abaixo trechos da carta:
“Na condição de diretora da EMEI Monteiro Lobato venho relatar as ameaças que a escola e equipe vem sofrendo relacionadas a questões de gênero, desencadeadas com divulgação” do vídeo.” Também pedir apoio para defesa da escola pública e do Currículo da Cidade que está fundamentada em consistente base legal.”
“O vídeo ataca a educação para equidade de gênero e faz grosseira montagem de situações diversas incluindo um trecho de vídeo divulgado por um pai da EMEI Monteiro Lobato em 2018, que no contexto de polaridades das eleições presidenciais, provocou forte intimidação à professora e a instituição escolar.”
Ainda segundo a carta, “a postagem nas redes sociais já atingiu 5,3 mil visualizações e 586 comentários até o dia 12/08/2021. As informações contidas têm provocado ameaças por telefone, denuncia e visita da polícia civil à unidade, denuncia na ouvidoria nacional dos direitos humanos.
Hoje, dia 12/08/2021, uma equipe da TV Record foi vista no Parque Buenos Aires gravando entrevista com o pai e criança que aparecem no vídeo de 2018. Acreditamos que o próximo passo dos ataques seja a veiculação e matéria em rede de televisão.
A EMEI Monteiro Lobato presa pela educação em direitos humanos e equidade, e acreditamos que uma educação pública de qualidade só é possível com ações coletivas e parcerias. Participa do Território Educativo das Travessias na região central da capital paulista; do Núcleo de Avaliação Institucional NAI – FEUSP desde 2019; mantém parcerias formativas com a Escola Cidade Aprendiz, com a Escola do Parlamento e Movimento Entusiasmo.
Neste contexto de ataques a democracia e direitos humanos, necessitamos de instituições e ativistas que possam contribuir para fortalecer o diálogo junto à Secretaria Municipal de Educação e nas instâncias necessárias de defesa da escola e em defesa da democracia”, diz a carta.
Ainda de acordo com Maria Cláudia, o vídeo, que já teve milhares de visualizações nas redes sociais, tem provocado ameaças de conservadores até visita da Polícia Civil à unidade.
Poder Executivo
O caso foi encaminhado à Prefeitura e está sendo acompanhado pelo Núcleo em Gênero e Sexualidades e assessoria jurídica da Secretaria Municipal de Educação. Segundo a secretária municipal adjunta de Educação, Minéa Paschoaleto Fratelli, um processo foi aberto para esclarecer as denúncias.
“Nós também ficamos bastante perplexos com a situação. A escola segue o currículo da cidade e o nosso currículo preza pela diversidade, equidade e pelo olhar tão diverso de nossa cidade nos diferentes territórios”, comentou Minéa.
Palavra dos vereadores
Segundo o vereador Eliseu Gabriel (PSB), as ameaças e intimidações que a escola tem recebido são absurdas. Para o presidente da Comissão, a questão não é apenas sobre a polarização, é sobre a violência, a ameaça de morte e a interrupção do processo educacional.
“Isso aconteceu em 2018 e agora estão requentando este assunto. A visita da polícia é totalmente inapropriada, isso não tem o menor cabimento. Independentemente da posição do posicionamento das pessoas sobre a questão de gênero, é absolutamente inadequado um policial entrar em uma escola e fazer questionamentos deste tipo”, observou o Eliseu.
“Para mim é muito perturbador que alguma pessoa receba uma ameaça de morte. Isso é seríssimo”, disse a vereadora Cris Monteiro (NOVO).
Sobre as ameaças recebidas pelos professores, a vereadora Sandra Santana (PSDB) pede apuração. “Incontestável que a questão da ameaça deve ser apurada e investigada”, comentou.
O vereador Celso Giannazi (PSOL) cobrou posicionamento do Executivo e elogiou a grade curricular da EMEI. “A Prefeitura de São Paulo estabeleceu o Currículo da Cidade com a expectativa das escolas implementarem e cumprirem as diretrizes como um todo. A EMEI Monteiro Lobato faz isso com muita competência”, disse o parlamentar.
Já a vereadora Sonaira Fernandes (REPUBLICANOS)) se comprometeu em ouvir os pais de alunos que descordam com as atitudes dos educadores da escola.“Estamos tratando aqui de crianças de quatro, cinco, seis anos. Se o Neymar quiser colocar um brinco e pintar a unha, o problema é dele que já é adulto. Na vida (escolar) de crianças de seis anos, os pais devem participar da educação de seus filhos”, comentou.
Encaminhamentos
Os vereadores que compõe a Comissão irão marcar uma visita à EMEI Monteiro Lobato para conversarem com educadores e pais de alunos e acompanharem os desdobramentos do que foi relatado. “A minha sugestão é continuarmos o diálogo e aprofundarmos nesse debate”, disse o vereador Eduardo Suplicy (PT).
O vereador Eli Corrêa (DEM) também esteve presente à reunião.
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