Em visita a barragens de rejeitos de mineração no Pará, o presidente da Comissão Externa da Câmara que apura a tragédia da mineradora Vale em Brumadinho (MG), deputado Zé Silva (SD-MG), quer que a lei garanta a segurança de empreendimentos desse tipo no Brasil.
“Eu saio daqui com a convicção de que é preciso ter uma lei que não seja leniente, não permita que crimes, desastres e tragédias como os que aconteceram em Minas aconteçam em outros locais”, disse o deputado. Zé Silva afirma que o sistema visto é mais moderno que o de Minas Gerais e que um dos motivos é o fato de a mineração ser mais recente no Pará.
Isac Nóbrega/Presidência da República
Rastro de lama e rejeitos deixado pelo romplimento da barragem de Brumadinho em janeiro
O desastre ambiental resultante do rompimento da barragem da mineradora da Vale em Brumadinho ocorreu em janeiro. Foram identificados, até o momento, 217 corpos e ainda há 87 desaparecidos.
Os representantes da comissão externa da Câmara visitaram as barragens de Água Fria e A1 da Mineração Rio do Norte, a MRN, no município de Oriximiná, e a barragem da Hydro Alunorte, em Barcarena – todas no Pará. O presidente da MRN, Guido Germani, disse que a empresa decidiu evacuar os funcionários próximo à barragem no Pará por empatia.
“Se você estivesse no meu lugar, acontecesse aquilo de Brumadinho, e você soubesse que a dez, vinte metros da sua barragem, tem um escritório e tem um refeitório. Você pensaria duas vezes? Meu irmão, eu não quero nem saber. Eu vou tirar. Essa foi a decisão. Apesar de não ver riscos, aqui não vai ficar.”
Cleide Monteiro é líder comunitária de Barcarena, local onde uma barragem de minérios da multinacional Imerys se rompeu em 2007, com rejeitos comprometendo o lençol freático. Segundo ela, isso tem provocando doenças na população. Cleide Monteiro teme que ocorra um desastre com a barragem da Hydro Alunorte.
“Essa bacia que está aqui da Hydro era da Vale. A Vale saiu daqui para não pagar esse passivo ambiental que ela tem com nós. Quem disse que essa bacia não vai romper? Ela foi feita no tempo da ditadura como foi feita lá em Brumadinho. Então, vamos esperar acontecer pra poder ter provas e fatos para poder fazer alguma coisa?”, questiona Cleide.
O prefeito de Barcarena, Antônio Carlos Vilaça, disse que a Hydro responde por quase 50% da arrecadação municipal. E ele afirma que não há contaminação na região.
“Tem 30 anos que eu vejo construir isso aqui. Na minha opinião, contaminação por parte da Hydro aqui não existe, não, e também nunca existiu. Contaminação que tem aqui é nos bairros, é coliformes fecais, o lixão do próprio município, que é o nosso, que hoje nós estamos construindo aterro.”
Segundo o deputado Júnior Ferrari (PSD-PA), que pediu visita na comissão externa da Câmara, o Pará é o segundo estado do país com maior número de barragens de minério com alto dano potencial, ficando atrás apenas de Minas Gerais.