Por iniciativa do deputado Dermilson Chagas (Podemos), que concedeu Cessão de Tempo ao representante do Sindicato dos Professores e Pedagogos de Manaus (Asprom/Sindical), Lambert Melo, e do deputado Wilker Barreto (Podemos), que levou o representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Amazonas (Sinteam), Cleber Ferreira, para discursar na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), os deputados discutiram durante dois dias consecutivos, a polêmica volta às aulas que os governos estadual e municipal estão impondo a pais, alunos, professores, técnicos e quadro administrativos das escolas públicas da capital e do interior.
Ambos sindicalistas apresentaram diversos motivos para a categoria recusar essa imposição. A principal delas é que a justificativa do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal de Manaus não estão embasadas em informações científicas. Lambert Melo, que discursou na quarta-feira (26), disse que a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) não apresentou estatísticas que comprovem que os casos de contágio e de óbitos estejam diminuindo.
Cleber Ferreira, que fez uma exposição de motivos na quinta-feira, (27) apresentou uma nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por solicitação do Sinteam, a qual diz, ipsis litteris, que “É esperado uma resposta imunológica protetora em torno de 15 dias após o recebimento do esquema vacinal completo da vacina Covid-19, seja com esquema vacinal completo de duas doses ou após a vacinação com vacina Covid-19 de dose única”.
Em resumo, os professores e demais profissionais de Educação só estarão efetivamente protegidos após 15 dias das duas doses da vacina, sendo que a maioria dos docentes ainda nem tomou a segunda dose do imunizante, conforme denunciaram Lambert Melo e Cleber Ferreira. “Nós estamos sob uma ameaça gravíssima, que é ameaça de estarmos indo nos contaminar pela Covid-19 nas escolas públicas de Manaus e do interior do Amazonas”, afirmou Lambert Melo.
O representante do Asprom/Sindical também disse que a publicidade veiculada na imprensa pelos governos estadual e municipal é enganosa, pois as escolas não possuem as condições necessárias exigidas pelos organismos internacionais e nacionais de saúde, como, por exemplo, ambientes arejados.
“As janelas são do tipo basculante e não abrem. Pedimos a reforma das janelas para que o ar natural possa circular, mas não fomos atendidos. Os condicionadores de ar também não passam por limpeza regular”, denunciou.
Professores mortos na segunda onda
Cleber Ferreira informou que o Sinteam realiza o monitoramento, nome a nome, de profissionais da Educação que falecem por complicações de Covid-19 a partir da segunda onda da pandemia. Ele afirmou que, de janeiro a fevereiro deste ano, foram 130 mortos, e que o levantamento atual comprova o falecimento de mais de 160 falecidos.
“A Seduc e a Semed não dão essa informação oficial e não sabemos se os órgãos de saúde têm controle, mas nós do Sinteam temos e fazemos a verificação nome a nome. E esse número é muito maior do que o número de mortes de profissionais da Educação em 2020. Então, nós estamos muito preocupados que esse número possa vir a aumentar e que nós nos tornemos o ‘gatilho’ de uma terceira onda com o retorno das aulas nesse formato híbrido”, desabafou o sindicalista.
Rede privada versus rede pública de ensino
Na manhã desta quinta-feira (27), a deputada Therezinha Ruiz comentou, durante a sua fala, que as escolas da rede privada de Educação já haviam retornado ao ensino presencial e com toda a segurança possível. Porém, Cleber Ferreira explica que o ensino privado representa apenas 8% da rede. “É um número ínfimo para haver uma comparação entre o retorno do ensino privado e os alunos da rede pública. Várias questões são colocadas. A maior parte dos alunos da rede privada vai para a escola num carro particular. A maior parte dos alunos da rede pública terá de pegar o transporte coletivo. E isso vai aumentar a circulação de pessoas utilizando o transporte coletivo”.
Ele destacou que não tem como comparar a estrutura de uma escola da rede privada com o da rede pública. “Isso tudo sem contar que nas escolas particulares é opcional a ida do aluno, além disso, os pais desses estudantes pagam as escolas, que acabam tendo mais estrutura porque o valor aluno-ano é quase três vezes maior do que o valor que o Estado gasta para garantir educação na escola pública, então a escola pública acaba tendo menos condições estruturais do que uma escola particular. E mesmo em relações que a gente possa comparar a questão estrutural de algumas escolas privadas com as escolas públicas, o número de estudantes da rede privada é muito menor do que o da rede pública, inclusive dos profissionais que trabalham nessa rede particular”.
Novas variantes e vacinação incompleta no interior
No Plenário Ruy Araújo da Aleam, somente os deputados Dermilson Chagas, Wilker Barreto (Podemos) e Nejmi Aziz (PSD) se manifestaram dizendo ser contra o retorno presencial de professores e alunos.
O deputado Dermilson Chagas disse, que, além de todos esses problemas denunciados pelos sindicalistas, ele alerta para a possibilidade de uma terceira onda, ainda mais forte do que as primeira e segunda ondas, devido ao fato de a variante do Reino Unido já estar circulando em Manaus, como confirmou a FVS.
O parlamentar também ressaltou que o estado não possui barreiras sanitárias eficazes para conter a chegada de mais pessoas que são agentes transmissores do vírus e alertou que a variante indiana, que já está se espalhando pelos estados do nordeste e sul do país, pode chegar rapidamente ao Amazonas.
“O que os pais e profissionais da Educação estão defendendo é o direito de preservar as suas vidas. O Governo do Estado age de forma irresponsável ao forçar, prematuramente, uma volta às aulas presencial. E isso é uma imposição mesmo, porque nem a Seduc e muito menos o governador Wilson Lima sentaram com as lideranças desses profissionais para conversar e encontrar um melhor meio de manter o nível e o padrão de um bom ensino para nossas crianças e jovens”, resumiu o deputado Dermilson Chagas.
A deputada Nejmi Aziz lembrou que dos 62 municípios do Amazonas, apenas 32 tiveram os profissionais da educação vacinados com a primeira dose da vacina contra o coronavírus, e relembrou que a primeira dose da vacina não garante a imunidade completa, o que coloca a vida dos profissionais em risco. “Sabemos e temos comprovação científica, que a primeira dose não garante a imunidade total, variando entre 50% a 89%, dependendo do fabricante, sendo de extrema necessidade a dose de reforço para que haja a imunidade total. Assim, mantive a postura de não concordar com a volta presencial das aulas nos interiores antes da aplicação da segunda dose da vacina”, lembrou Nejmi.
A deputada destacou que existe a possibilidade de uma terceira onda da Covid-19, conforme o alerta da Fundação de Vigilância Sanitária (FVS), que analisou e comparou o número de casos da doença entre o dia 28 de abril e a última segunda-feira, (17). O resultado da análise mostra que a pontuação da avaliação de risco passou de 16 para 19 pontos. Atualmente, o Amazonas está em fase laranja, o que representa o risco moderado de transmissão do coronavírus.
O deputado Wilker Barreto também se manifestou contrário ao retorno presencial e destacou que o que está em jogo são vidas humanas e que a Aleam já recebeu por duas vezes a presença do pesquisador Lucas Ferrante que alertou sobre os perigos que a abertura do comércio, igrejas e escolas podem causar.
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FOTO: MÁRCIO GLEYSON