A 51ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), que exige 50% dos modelos participantes negros ou indígenas, mostra como os debates sobre raça propostos na década passada renderam frutos. Em 2009, por exemplo, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) intimou estilistas e organizadores sobre a escolha do casting do evento. Atualmente, além da cota racial, a semana de moda recebe o projeto Sankofa, coletivo de estilistas negros com oito marcas.
“A moda é um recado, é um código que se apresenta para as pessoas. [Uma mensagem] de autoestima ou de baixa-estima, para incluir ou para excluir. Tem os dois caminhos. A gente sempre vem procurando trazer para a moda e, a partir do SPFW, enfrentando essas questões que transformem o todo”, aponta Paulo Borges, diretor criativo da SPFW. O evento teve início no dia 23 e segue até domingo (27) e conta com a participação de 43 marcas.
O diretor destaca que grandes eventos podem ser vitrines para que mudanças reais aconteçam na sociedade. “Ao colocar modelos racializados na passarela, você não está mudando a SPFW, você está trazendo uma mensagem para a sociedade como um todo. É isso que é importante, o mais importante aqui é onde se chega com esse gesto”, defende.
Ele acrescenta que essas mudanças são fundamentais para que o próprio processo criativo de moda seja mais diverso. “A moda é um processo vivo, é um processo orgânico. Viver, neste momento, é uma experiência de aprendizado. Quanto mais escutar, mais vai conseguir provocar pontes e transformações.”
Semana de moda do Brasil
O evento, em formato de festival, tem como tema “Regeneração”, conceito que envolve aspectos como protagonismo feminino, empreendedorismo, inclusão e tecnologia. Borges explica que o ano da pandemia trouxe essa perspectiva da necessidade de refazer. “[Falamos] de fazer processos regenerativos para tudo, pra moda, pra vida, pras relações, pras pessoas, pro processo, pro ambiente. E a gente foi entendendo que tudo isso acontecia de uma maneira em que tudo fazia sentido”, explica.
Em uma edição 100% digital, assim como a anterior, Borges aponta que a presença online é uma marca do evento. “A gente sempre acreditou que a internet, para o Brasil, pelo seu tamanho, pela sua forma, não só geográfica, mas diversa do ponto de vista de cultura, de comportamento, seria uma ferramenta valiosa para construir um processo de moda dentro do país”, avalia.
A próxima edição está prevista para novembro. “Acredito que a gente já consegue fazer uma parte da São Paulo Fashion Week, do festival, de forma física, com todas as precauções necessárias, mas estamos também prontos para fazer 100% digital.” Borges acredita que, mesmo com o fim das restrições sanitárias, o evento caminha para uma mescla entre o digital e o físico. “Você não vai trocando, você vai juntando camadas de relações, de velocidades, de formas e a gente já vem experimentando o digital com a São Paulo Fashion Week há bastante tempo.”
A programação completa pode ser conferida no site do evento.