Alegria, euforia, depressão, angústia, medo. Emoções tão humanas que estão presentes em todas as vertentes da educação, seja como tema de estudo em sala de aula, seja como competência emocional e social que o estudante desenvolve ao longo de sua formação. Na Escola Estadual Angelina Lia Rofsen, em Araraquara, esses assuntos foram além e renderam até um livro colaborativo.
Tudo começou com o professor de filosofia Tadeu Marcato, que ao longo do segundo semestre de 2018, tratou de temas existencialistas como forma de promover conscientização nos estudantes. “Quis trazer para a sala de aula a prevenção de dependência química. Através de pensadores como o Jean-Paul Sartre e Albert Camus, tratamos da angústia existencial. A ideia é o que te angustia, o que te dá medo e como você pode colocar isso pra fora de você”, explica o professor.
Os estudantes formularam poemas sobre o assunto, o que rendeu muitas obras. “Quis transformar o estudante e autor e colocar essas reflexões no livro”, explica Tadeu, que selecionou junto aos estudantes os 75 poemas que entraram no “I Antologia Poética”, o nome da publicação.
Para os jovens, a experiência foi positiva. “Me expressar através de papéis me fez reviver momentos dolorosos, mas foi muito bom. A reflexão é importante e eu adoro escrever”, explica a estudante Gabrieli Luany, de 15 anos, do Ensino Médio, e uma das selecionadas para compor o livro final.
Mais do que poemas, a experiência transformou o cotidiano dos estudantes e a forma como eles lidam com os sentimentos – seja dos outros, seja deles próprios.
Primeiro porque muitos dos temas tratados nos poemas nasceram do cotidiano e da percepção dos jovens sobre os problemas da sociedade e como eles podem ser solucionados. Um, em especial, merece destaque. É o poema “‘Só queria estudar”, de Iago Cardamoni. Ele escreveu num dia triste, quando um garoto foi morto a caminho da escola no Rio de Janeiro. “A escrita é uma forma de expressar os nossos sentimentos”, resume o jovem.
Depois, porque essa foi a primeira oportunidade que muitos tiveram de escrever um poema. “Nunca tinha escrito poema na minha vida, até que o professor Tadeu me deu essa oportunidade, posso me expressar e desabafar”, comemora a Samira Ferreira, de 16 anos. Já Carolina Aparecida descobriu uma forma de colocar em palavras o que nem sempre sai redondo em vozes. “Eu aprendi a expressar meus sentimentos em papel, o que eu não conseguiria fazer com pessoas. Agora, ter o livro em nossas mãos é algo inacreditável”, diz.
O sucesso foi tão grande que o livro foi lançado em maio na cidade, em evento que contou com os pais dos jovens escritores, o professor Tadeu e autoridades da escola. O nome do lugar? sala Jean-Paul Sartre, na Casa da Cultura. Não poderia ter lugar melhor para um evento tão transformador.