Apesar da legislação brasileira exigir o uso de recursos alternativos quando existentes, em diversas linhas de pesquisa ainda não há uma preocupação real quanto à utilização de produtos de origem animal. Vegetariana e com questionamentos éticos desde criança, Bianca Marigliani, ainda durante a graduação, conscientizou-se do sofrimento dos animais usados no ensino e na pesquisa. A decisão de buscar métodos alternativos ao uso de animais para testes de sensibilização cutânea veio no doutorado, quando preparou sua tese sobre a possibilidade de eliminar o uso de soro fetal bovino no cultivo de células in vitro.
O soro fetal bovino, usado comumente no cultivo de células mamíferas, é extraído de sangue coagulado de fetos bovinos. Composto por grandes quantidades de ácidos graxos, fatores de crescimento, aminoácidos e vitaminas, o soro estimula o desenvolvimento da célula. A pesquisadora decidiu adaptar a mesma linhagem celular a diferentes meios quimicamente definidos – sem componentes de origem animal – tornando o método isento para atender a demanda por cosméticos seguros e éticos.
Deste modo, pela primeira vez, demonstrou-se ser possível adaptar células usadas em um método já validado e reconhecido internacionalmente. A pesquisa foi laureada internacionalmente com o Lush Prize, em 2015. Para Bianca, “o apoio da CAPES foi fundamental para que eu pudesse me dedicar exclusivamente à minha formação acadêmica e aos experimentos”.