Melhorar a formação dos médicos do País na área de tratamento da dor foi uma das propostas levadas ao 14º Congresso Brasileiro de Dor (CBDor), que ocorreu no final de semana, em São Paulo. A médica anestesiologista e gerente do Serviço de Terapia da Dor de Cuidados Paliativos da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), Mirlane Cardoso, participou do encontro fazendo quatro palestras relacionadas com o tema.
Em função do aumento de mortes, suicídio e dependência por opioides nos Estados Unidos, o país norte-americano vive uma epidemia no uso abusivo desses medicamentos, que são analgésicos potentes para tratar a dor, como a morfina.
Apesar dessa epidemia nos EUA documentada chamar a atenção da sociedade mundial, o tema no Brasil tem sido tratado com cautela. Os médicos reforçam que o problema no Brasil não é de excesso de prescrição desses medicamentos e sim de falta do diagnóstico e tratamento adequado.
“Vivenciamos uma crise no Brasil, mas oposta de lá. Vivenciamos uma crise de subdiagnóstico e subtratamento da dor crônica. Não se faz o diagnóstico da dor adequadamente, consequentemente não se trata”, explica a médica Mirlane Cardoso.
Formação – A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) aponta que 93% dos problemas relacionados ao tratamento inadequado da dor está relacionado à educação e formação dos profissionais de saúde. Na graduação, não existe a disciplina do tratamento da dor na maioria da universidades e os médicos só vão vivenciar o tema em especializações. No congresso, os profissionais discutiram a construção de uma matriz básica que contenha a disciplina.
FCecon – A anestesiologista da FCecon fez quatro palestras no 14º CBDor, onde compartilhou sua experiência com casos clínicos de dor de difícil controle, tratados na Fundação.
A unidade hospitalar trata pacientes no Ambulatório de Dor há mais de 26 anos e muito deles em estágio avançado de câncer, que fazem uso de medicamentos analgésicos, como morfina, tramadol e codeína para controlar a dor.
“A FCecon é a única unidade em todo o Brasil que faz a dispensação de medicamentos. Eu trato e eu controlo. Eu sei quanto eu prescrevi, eu sei quanto ele tem”, explicou a médica da FCecon.
Cardoso destaca que a FCecon, além de prevenir e tratar pacientes com câncer, tem como meta ter medidas de suporte para os que já estão com doenças avançadas. O controle na Fundação é feito pelo Serviço de Farmácia, com fiscalização da Polícia Federal (PF).
Medidas – Além da melhoria na formação dos médicos, os congressistas apontaram que é necessário padronizar a prescrição de opioides, assim como implantar o controle eletrônico dos medicamentos prescritos. A criação de políticas públicas para o tratamento da dor também é necessária para melhorar a questão no País.