O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos lançou, hoje (4), o programa Reconecte. Segundo a titular da pasta, Damares Alves, a finalidade é alertar a população para os riscos do uso excessivo da tecnologia e “reconectar as famílias do Brasil”.
O programa tem cinco eixos: tecnologia e dignidade humana; responsabilidade digital; tecnologia e saúde; segurança digital e cultura digital. Conforme explicou Daniel Celestino, coordenador-geral de Enfrentamento a Vícios e Impactos Negativos do Uso Imoderado de Novas Tecnologias, o governo trabalha com o intuito de levar a mensagem a pessoas de todas as idades. Ele disse que as orientações podem servir, inclusive, a idosos, que, muitas vezes, por desconhecimento, não protegem seus dados pessoais na internet ou, então, compartilham informações que não têm veracidade.
Ainda serão abordados no projeto a relação de doenças com a dependência digital e temas mais delicados, como a pornografia infantil. No ano passado, uma ação articulada entre a organização não-governamental Safernet e o Ministério Público Federal identificou a existência de mais de 6 mil sites com vídeos e imagens de estupro de menores.
Uma das atividades planejadas no âmbito do Reconecte é o Desafio Detox Digital Brasil, que deve ser realizada em outubro, em São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Paraná. A proposta é de que as pessoas, ao aderir à iniciativa, troquem, durante um dia, o tempo que gastam manuseando celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos por atividades offline.
Transformações
O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), é de opinião que a humanidade está vivendo “um momento histórico”, em que a exposição da vida pessoal se tornou “desmedida”. Segundo ele, essa exposição tem contribuído para a atração das pessoas pela espetacularização de eventos cotidianos e comuns. “As redes sociais existem desde que o homem é homem. Se eu for à universidade, à cafeteria, é uma rede social. O que nós temos hoje é a amplificação muito expressiva, fazendo que com que aquilo que eu poderia falar para algumas poucas pessoas, hoje seja estendido para milhões”.
Outro traço do período, segundo ainda o psicólogo, seria a busca constante das pessoas por validação através da internet. Segundo Nabuco, as pessoas têm reforçado, no ambiente online, a sensação de recompensa e valorização, por meio de likes (curtidas) no conteúdo que veiculam. Ele disse que, em média, uma pessoa verifica seu smartphone 110 vezes por dia.
Nabuco destaca, como exemplo que, na contemporaneidade, as pessoas não estariam mais se dedicando tanto a postar fotos de celebridades que admiram. Ao invés disso, elas estariam mais propensas a publicar imagens delas mesmas, as chamadas selfies, melhoradas com filtros que as embelezam e as aproximam daquilo que idealizam, ainda que tudo se concretize apenas nas aparências. “Esse mundo virtual oferece absolutamente tudo”, disse.
Nabuco acrescenta que, apesar de o advento de veículos de comunicação ter apavorado outras gerações, as tecnologias atuais o inquietam por ter elevado grau de manipulação. Na sua opinião, a vigilância de empresas em torno dos usuários propicia exageros, já que, os induz a permanecer por mais tempo em ambientes online, oferecendo conteúdos que cabem perfeitamente em seu rol de interesse.
“Quando surgiu o jornal, minha mãe falava que muita gente dizia que ia perder as relações por conta dele. Quando chegou o telefone, [diziam] meu Deus, vai amputar aspectos importantes dos relacionamentos. O que ouço muito é, isso é uma tecnologia neutra. Isso vai depender absolutamente da forma como você utiliza. As pesquisas têm mostrado que as empresas estão trabalhando para que, a cada 24 horas, os sistemas de software se tornem mais manipulativos. A cada 24 horas, essas empresas trabalham para sequestrar sua atenção. Quanto mais tempo você ficar, mais tempo elas valem. Elas visam maximizar seu engajamento”.
Edição: Fernando Fraga
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos lançou, hoje (4), o programa Reconecte. Segundo a titular da pasta, Damares Alves, a finalidade é alertar a população para os riscos do uso excessivo da tecnologia e “reconectar as famílias do Brasil”.
O programa tem cinco eixos: tecnologia e dignidade humana; responsabilidade digital; tecnologia e saúde; segurança digital e cultura digital. Conforme explicou Daniel Celestino, coordenador-geral de Enfrentamento a Vícios e Impactos Negativos do Uso Imoderado de Novas Tecnologias, o governo trabalha com o intuito de levar a mensagem a pessoas de todas as idades. Ele disse que as orientações podem servir, inclusive, a idosos, que, muitas vezes, por desconhecimento, não protegem seus dados pessoais na internet ou, então, compartilham informações que não têm veracidade.
Ainda serão abordados no projeto a relação de doenças com a dependência digital e temas mais delicados, como a pornografia infantil. No ano passado, uma ação articulada entre a organização não-governamental Safernet e o Ministério Público Federal identificou a existência de mais de 6 mil sites com vídeos e imagens de estupro de menores.
Uma das atividades planejadas no âmbito do Reconecte é o Desafio Detox Digital Brasil, que deve ser realizada em outubro, em São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Paraná. A proposta é de que as pessoas, ao aderir à iniciativa, troquem, durante um dia, o tempo que gastam manuseando celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos por atividades offline.
Transformações
O psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), é de opinião que a humanidade está vivendo “um momento histórico”, em que a exposição da vida pessoal se tornou “desmedida”. Segundo ele, essa exposição tem contribuído para a atração das pessoas pela espetacularização de eventos cotidianos e comuns. “As redes sociais existem desde que o homem é homem. Se eu for à universidade, à cafeteria, é uma rede social. O que nós temos hoje é a amplificação muito expressiva, fazendo que com que aquilo que eu poderia falar para algumas poucas pessoas, hoje seja estendido para milhões”.
Outro traço do período, segundo ainda o psicólogo, seria a busca constante das pessoas por validação através da internet. Segundo Nabuco, as pessoas têm reforçado, no ambiente online, a sensação de recompensa e valorização, por meio de likes (curtidas) no conteúdo que veiculam. Ele disse que, em média, uma pessoa verifica seu smartphone 110 vezes por dia.
Nabuco destaca, como exemplo que, na contemporaneidade, as pessoas não estariam mais se dedicando tanto a postar fotos de celebridades que admiram. Ao invés disso, elas estariam mais propensas a publicar imagens delas mesmas, as chamadas selfies, melhoradas com filtros que as embelezam e as aproximam daquilo que idealizam, ainda que tudo se concretize apenas nas aparências. “Esse mundo virtual oferece absolutamente tudo”, disse.
Nabuco acrescenta que, apesar de o advento de veículos de comunicação ter apavorado outras gerações, as tecnologias atuais o inquietam por ter elevado grau de manipulação. Na sua opinião, a vigilância de empresas em torno dos usuários propicia exageros, já que, os induz a permanecer por mais tempo em ambientes online, oferecendo conteúdos que cabem perfeitamente em seu rol de interesse.
“Quando surgiu o jornal, minha mãe falava que muita gente dizia que ia perder as relações por conta dele. Quando chegou o telefone, [diziam] meu Deus, vai amputar aspectos importantes dos relacionamentos. O que ouço muito é, isso é uma tecnologia neutra. Isso vai depender absolutamente da forma como você utiliza. As pesquisas têm mostrado que as empresas estão trabalhando para que, a cada 24 horas, os sistemas de software se tornem mais manipulativos. A cada 24 horas, essas empresas trabalham para sequestrar sua atenção. Quanto mais tempo você ficar, mais tempo elas valem. Elas visam maximizar seu engajamento”.
Edição: Fernando Fraga