O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não sabe o tamanho do corte que haverá no Censo de 2020. A medida foi proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu simplificar a pesquisa. Em audiência pública realizada nesta terça-feira (21), a coordenadora do Censo Demográfico, Maria Vilma Salles Garcia, disse que o instituto ainda não sabe com quanto deve contar para realização da pesquisa.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Técnicos consideram que a simplificação da pesquisa será um desperdício de recursos públicos
“A gente tem vários cenários. Dependendo do corte que vier, a gente vai adequar num cenário ou em outro. O que nós não podemos é ficar de braços cruzados, com o mesmo projeto original, que custa R$ 3,1 bilhões ano que vem. E se vier um corte, o que a gente faz? Não dá mais tempo de fazer nada”
Ela afirma que o IBGE já procura apoio do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento para a realização do Censo 2020.
Os dados gerados pelo censo, como perfil da população, moradia e relação com serviços públicos locais, dão base para as políticas públicas do país. A distribuição de recursos do governo federal para estados e municípios também é feita de acordo com o censo. Para o demógrafo do instituto Antônio Tadeu de Oliveira, existe um risco de apagão estatístico com o contingenciamento de recursos.
“Mudar o censo a essa altura do campeonato como está se falando (mexer no questionário, mexer no projeto tecnológico, a coleta pela internet) é uma temeridade. A gente está correndo um sério risco. Seja do ponto de vista do atropelo do cronograma, seja da falta de recursos para fazer um censo com qualidade”, alertou.
Técnicos consideram que a simplificação da pesquisa será um desperdício de recursos públicos, porque mesmo um censo simplificado custa muito caro. Mas a direção do IBGE acredita que é possível fazer a pesquisa, mesmo se os recursos sofrerem cortes.
O Censo Demográfico do Brasil é realizado pelo IBGE a cada dez anos desde a época da monarquia. O último censo foi feito em 2010.
Como a realização do censo de 2020 está ameaçada, o deputado que sugeriu a reunião, Nelson Pellegrino (PT-BA), saiu preocupado da audiência pública.
“O Censo tem um planejamento de anos anteriores. A nova direção, sob o governo Bolsonaro, quer zerar tudo em nome de uma política de cortes, comprometendo a qualidade técnica e o cronograma que foi estabelecido”.
Nelson Pellegrino afirma que, se a indefinição sobre os cortes no IBGE continuar, os deputados pretendem levar a questão ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público para garantir recursos para o Censo 2020.