Tratar a ciência, a tecnologia e a inovação como política de Estado e criar um novo marco legal de desenvolvimento amplo, que estabeleça o complexo industrial da saúde como parte da estratégia nacional de desenvolvimento econômico e social. Essas foram algumas iniciativas defendidas por debatedores e pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) durante audiência pública da Comissão Senado do Futuro (CSF) que debateu, nesta sexta-feira (20), saídas para o crescimento do complexo econômico-industrial do setor no país.
Izalci Lucas, que preside a comissão e foi autor do requerimento para a realização da audiência, observou que o setor de ciência e tecnologia tem sofrido sucessivos cortes orçamentários, inviabilizando investimentos numa cadeia tecnológica que poderia ajudar o país na saída da crise econômica. Para ele, o governo precisa ver a questão na inovação como investimento e não como mera despesa.
— São desafios do obvio, que a gente tenta falar todo dia para ver se consegue avançar um pouco. Mas os institutos [institutos de ciência e tecnologia], que são institutos de alto nível, estão com muita dificuldade de sobrevivência. Tem instituto que não consegue pagar a conta de luz. A gente está com uma redução orçamentária muito grande do CNPq, da Capes e do próprio ministério [de Ciência e Tecnologia] — disse o senador.
Coordenador do grupo de pesquisa sobre desenvolvimento, complexo econômico-industrial e Inovação em Saúde da Fiocruz, Carlos Augusto Grabois Gadelha afirmou que o “complexo da saúde 4.0” está para o Brasil de hoje como o petróleo e o aço estiveram no passado: o domínio do setor é capaz de alavancar o desenvolvimento e garantir a soberania.
Para evitar que o país continue sendo apenas produtor de produtos primários e importador de produtos e insumos com riqueza e valor tecnológicos agregados — como acontece com os insumos, vacinas e respiradores durante a pandemia de covid-19 — é preciso uma base tecnológica e o “meio de campo” do complexo industrial da saúde para transformar conhecimento em desenvolvimento econômico e social. No Brasil, a dependência de importação de medicamentos e de vacinas está em 75%, enquanto em relação a ingrediente farmacêutico ativo (IFA) é de 90%, disse o representante da Fiocruz.
— E no contexto da revolução tecnológica 4.0, no contexto de hiperconectividade sistêmica, a gente precisa de um espaço translacional, que tire o conhecimento que está na USP, na Paraíba, no Rio Grande do Sul (…). Ou seja, eu fui em um laboratório de inteligência artificial na Paraíba de excelente qualidade. E a gente só consegue tirar isso de laboratórios e transformar em riqueza e desenvolvimento se a gente tem esse meio de campo e essa base produtiva e tecnológica industrial mais voltada à inovação.
Entre as medidas que podem auxiliar nesse processo, Gadelha considera fundamental que se entenda a área da saúde como parte de uma nova agenda de desenvolvimento do país. Para isso, afirmou, é preciso criar uma base institucional sólida no setor.
Reginaldo Braga Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, um conglomerado dedicado à produção de medicamentos, disse que o Brasil não pode prescindir de ver instalada uma indústria farmacêutica consolidada e capaz de inovar, principalmente quando são apresentados novos desafios, como foi neste período pandêmico.
— Nós temos que ter uma visão de longo prazo e saber equilibrar as questões (…). Você tem que ter uma base de cientistas e empresas no país. Por isso as nossas propostas têm sido sempre nessa linha, o mecanismo básico seria nós aperfeiçoarmos o uso do poder de compra do Estado na área pública, termos uma regulação focada na inovação. E isso significa que a Anvisa [Agência de Vigilância Sanitária] precisa ter como um norte constante da sua ação à inovação, para que a gente possa minimizar essa vulnerabilidade que fiou patente no sistema de saúde brasileiro.
Inteligência artificial e big data
Para Luis Lamb, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul, o Brasil precisa de um grande projeto de nação para a ciência e tecnologia. Segundo ele, quando se avalia inovação, o que se percebe é que os países com índice de inovação mais avançado são também os mais desenvolvidos. E para lidar com esse desafio, avalia, é preciso uma estratégia com planejamento e uso cada vez mais urgente de inteligência artificial e big data — campo que trata de analisar e extrair informações de um conjunto de dados muito grandes ou complexos para serem tratados por processamento de dados tradicional. Lamb destacou o Brasil como possuidor de grande vantagem competitiva para desenvolvimento do complexo industrial da saúde, pelo índice populacional e grande mercado consumidor, que poderia ser utilizado para ampliar o poder de compra do governo.
— E o Brasil tem uma grande vantagem competitiva, temos mais de 213 milhões de pessoas. O que gera riqueza e o que gera escala no século 21 é uma população educável, uma população capaz de realizar transformações. E aliado a isso nós temos um mercado consumidor que a gente pode utilizar como poder de compra do governo para acelerar nossas matrizes econômicas estratégicas, onde a saúde é provavelmente uma das mais relevantes — disse Lamb.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)