Reila Maria/Câmara dos Deputados
Carlos Mussi, presidente substituto do Inep, durante audiência na comissão externa
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), informou que trabalha em parceria com a Polícia Federal na segurança do exame. O presidente substituto do Inep, Carlos Mussi, também procurou “tranquilizar” os alunos quanto ao cronograma.
“Nós estamos acompanhando no dia a dia e temos a certeza, nesse momento, da segurança que a gente deseja para os exames. O Enem será executado na data: o cronograma está mantido e a prova está mantida com todo o sigilo. Realmente, está tudo em dia”, disse.
Ele participou de audiência pública realizada nesta terça-feira (2) pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações do Ministério da Educação. O Enem vai mobilizar mais de 5 milhões de alunos em provas marcadas para os dias 3 e 10 de novembro.
A deputada Rose Modesto (PSDB-MS), que pediu o debate, disse que o objetivo da audiência foi evitar a repetição das “incertezas” do ano passado, quando houve problemas na impressão das provas e riscos de vazamento das questões.
O Enem será aplicado em todos os estados, num total de 1.727 municípios. O exame foi criado em 1998 para medir o nível de aprendizagem dos alunos do ensino médio. Com o tempo, transformou-se na principal porta de entrada dos alunos para as universidades. Porém, os especialistas afirmaram que a nova lei do ensino médio (Lei 13.415/17) – marcada por nova base curricular e ampliação da carga horária – vai impor mudanças no exame a partir de 2021.
Críticas ao modelo
Integrante do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena de Castro disse que um dos desafios no debate sobre o Enem é garantir oportunidades iguais para os alunos.
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Maria Helena de Castro: desafio é garantir oportunidades iguais para os alunos
“A obsessão do Enem vai continuar enquanto o Enem for um vestibular nacional centralizado para um número muito reduzido de vagas. São 5 milhões de alunos que concorrem a 230 mil vagas, sendo que o Enem só discrimina para as universidades públicas federais a partir da (nota) média 600. Como 70% dos alunos têm menos de (nota) 500, então, desses 5 milhões de alunos, a gente já sabe que 70% estão fora”, disse.
Coordenadora da comissão externa, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), também criticou o atual modelo.
“Eu tenho um carinho gigantesco pela pauta de um novo vestibular. Acho que o nosso vestibular, mais do que tudo, se viciou a olhar quem chega mais longe e, de forma alguma, olha quem corre mais. Ele não olha para diferentes tipos de inteligência, ele não olha para o aluno que teve de trabalhar, estudar e cuidar dos irmãos e que estudou em escola pública de baixa qualidade”.
Educação obsoleta
Entre as sugestões apresentadas por deputados e especialistas estão a realização de duas ou três provas por ano, a adoção de provas online e alternativas ao atual modelo de provas de múltipla escolha. Raquel Oliveira, especialista em políticas educacionais da Fundação Getúlio Vargas, disse que as escolas e o Enem devem preparar os alunos para resolver problemas e usar as novas tecnologias disponíveis, e não para memorizar respostas.
“O mundo do trabalho está mudando. Enquanto a gente tem esse reflexo de modernidade para muitos setores, muitas vezes quando a gente conversa com jovens alunos e com professores, vê-se que a escola não se modernizou. Parece que a educação ficou obsoleta e aí a gente entra em um movimento de desequilíbrio. É a partir dele que a gente vai buscar um olhar novo para a inovação”, observou.
Caio Sato, do movimento Todos pela Educação, lembrou que cerca de 10% dos alunos que fazem o Enem são adultos em busca de requalificação profissional. O movimento defendeu o exame como instrumento de política pública para ampliar o acesso à educação.