A descoberta de novos açúcares é um dos focos de um laboratório da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Assis, no interior do Estado, que faz parte de uma rede de oito centros ligados ao Instituto de Pesquisa em Bioenergia, sediado em Rio Claro.
O desafio da equipe do laboratório, composta por 16 alunos de graduação e pós-graduação, é continuar gerando conhecimento, comprometido com a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida da população.
“Os resíduos, na nossa visão, são uma oportunidade de novas tecnologias e novos produtos. Nós não só estamos reduzindo esse impacto ambiental como também viabilizamos empregos e renda, na medida em que geramos negócios e produtos a partir desses resíduos”, explica o professor Pedro de Oliva Neto, à TV Unesp.
Produção
A proposta do local é fornecer um destino a resíduos sem valor comercial ou que iriam para o lixo. No espaço, restos de alimentos se transformam em matéria-prima, por exemplo, para a produção de etanol.
Além disso, o lixo domiciliar e até o bagaço de mandioca podem ser utilizados na composição. A etapa de fabricação do combustível renovável começa com o uso de uma enzima produzida no laboratório, formada pela junção de fungos e materiais reaproveitados, como farelo de trigo e o bagaço de cana-de-açúcar.
Colocada na água, a enzima quebra as moléculas em partes menores, em uma reação conhecida como hidrólise. Em seguida, as substâncias são convertidas em álcool, após a fermentação.
“O intuito é que nós possamos utilizar resíduos que já não têm uma finalidade para o aproveitamento total e não gerar mais resíduos. A partir desse processo de transformação dos açúcares em etanol, ainda sobre um resíduo, que é destinado à produção de estruturas que podem ser queimadas para a produção de energia”, afirma à TV Unesp a doutoranda Bruna Escaramboni. “Também obtemos os lipídeos, que podem ser destinadas a um processo de obtenção de biodiesel”, acrescenta a pesquisadora.
Pesquisas
A doutoranda Francine Figueiredo conduz um dos estudos no laboratório, que analisa como o bagaço e a palha da cana podem ser fontes de produção de xilo-oligossacarídeos (XOS), um tipo de açúcar que não passa por digestão e chega diretamente ao intestino humano, alimentando as chamadas “bactérias do bem”.
“A literatura descreve vários benefícios do XOS, entre os quais o estímulo das bactérias benéficas. Por competição, ela evita que uma ‘bactéria ruim’ consiga aderir ao intestino. Sem essa adesão, ela é eliminada. Há outros benefícios, como evitar o câncer e melhorar o sistema imunológico”, enfatiza a pesquisadora à TV Unesp.
Leveduras
Outra pesquisa em andamento no laboratório da Unesp é o conduzido pelo doutorando Edson Marcelino Alves, que usa como matéria-prima os fungos responsáveis por fermentar e fabricar a cerveja, conhecidos como leveduras.
“Durante o processo de fabricação da bebida sobra bastante levedura, que apresenta um potencial muito grande para a extração de vitaminas, proteínas e enzimas. Em uma indústria convencional, após a fabricação da cerveja, esse resíduo é descartado ou vendido a baixo custo. Desenvolvo metodologias para aproveitar melhor essa levedura”, salienta o estudante à TV Unesp.
A intenção, que deve se transformar em uma patente em breve, pode gerar à indústria a redução de custos e o aumento dos lucros. “Com nossa metodologia, a cervejaria poderia abrir o mercado, aproveitando melhor os resíduos que ela própria produz”, completa.