Programação segue até sexta-feira, 22, nos turnos vespertino e noturno, com mesas temáticas e comunicações orais.
Na tarde hoje, 20, o auditório Rio Solimões do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS) estava repleto de estudantes, professores e curiosos durante a abertura do Seminário de Metodologia da Pesquisa em Linguagem e Literatura. Em sua sexta edição, o evento iniciou tratando o tema da saúde mental numa abordagem pouco comum, ou seja, do ponto de vista dos pós-graduandos, dos elementos estressores a que estão submetidos e das práticas interventivas que podem amenizar os sofrimentos durante esse período.
O professor Sérgio Freire, doutor em Linguística, docente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Ufam (PPGL) e coordenador do Grupo de Pesquisa Discurso e Práticas Sociais (CNPq/Ufam), também é finalista do curso de Psicologia desta Universidade. Ele proferiu a palestra ‘Pós-Graduação e Saúde Mental: precisamos falar sobre isso’. De saída, o pesquisador alertou para um dos principais aprendizados de sua atual formação: “Meus professores serem enfatizam que nós somos seres biopsicossociais – e um deles completa com o fator espiritual – de forma que precisamos vivenciar todos esses aspectos com equilíbrio. Somos mais que a nossa vida acadêmica, as disciplinas, os artigos, os prazos… A vida acontece, e ela é dinâmica”.
Sabrina Gomes, por exemplo, apesar de ainda ser estudante do primeiro período da graduação em Letras – Língua Portuguesa, reconhece “que existe certa pressão, como nas listas de leituras diárias de artigos ou livros”. Aprovada na Ufam pelo SiSU, a jovem de 19 anos largou a vida na cidade de Juruti (PA) e veio em busca do sonho do ensino superior. “Cheguei faz pouco tempo, e ainda estou arrumando as coisas. Moro com parentes e ainda não conheço a cidade. As atividades acadêmicas se somam a isso e, realmente, causam certo estresse”, disse ela. Apesar disso, Sabrina já prepara um projeto para concorrer à iniciação científica em 2020.
Conhecendo as causas
Entre os fatores chamados de estressores, o professor Sérgio Freire elencou seis bastante comuns entre os pós-graduandos. O primeiro é de ordem financeira, ou seja, o valor da bolsa oferecida, que, segundo alertou o docente, está defasado. “Para a realidade de hoje, a bolsa de mestrado deveria ser em torno de três mil reais”, afirmou.
Outro problema é a quanto ao futuro pós-defesa, que gera altos níveis de ansiedade. Na verdade, o professor apontou uma espécie de ciclo pela qual o discente passa durante a sua estada na pós-graduação, formado por picos de estresse que poderiam ser evitados com planejamento. “Existe aquela situação de pegar muitas disciplinas e, no fim do período, se ver forçado a escrever vários artigos, ou deixar para escrever o texto da qualificação em uma semana e, de forma sintomática, ter um ‘branco’ ou ‘travar’ no processo de escrita”, alerta o professor Sérgio Freire.
Prosseguindo, ele mencionou a “falta de equilíbrio entre a esfera acadêmica e a vida extra-acadêmica”, esta exemplificada nas atividades de lazer, na prática de exercícios físicos ou mesmo no cultivo de uma filosofia de vida. O pesquisador somou a isso algo que ele denominou de “Currículo Oculto”. Trata-se, por exemplo, de imposições pouco racionais, vivências nos corredores e até competitividade entre os colegas. “Isso pode estar relacionado a casos de assédio – moral ou sexual – e até de despotismo por parte do orientador”, disse.
Além de tudo isso, há os fatores pessoais, que são, na verdade, a psicodinâmica da vida e as características intrínsecas a cada um. Nesse último fator, conforme apresentou o professor Sério Freire, podem ser elencados os mecanismos pouco adaptativos dos pós-graduandos para lidar com críticas e pressão acentuada.
É claro que o orientador também possui um papel importante nesse contexto, dada a sua influência direta sobre o trabalho de seus orientandos. Esse ator pode ser de três tipos, conforme discorreu o palestrante: o primeiro é autocrático, não escuta sugestões e quer tudo do seu jeito; o segundo, uma espécie de meio-termo, é inspirador – ele indica livros, esclarece dúvidas e motiva para a descoberta; e o terceiro tipo, sob a alcunha de “laissez faire”, é mais liberal, embora de modo que possa deixar um grande espaço de autonomia e decisão nas mãos do orientando. E isso pode representar um sofrimento.
Práticas interventivas
Para o professor, cada um dos atores tem um papel importante na adoção de práticas interventivas que podem melhorar a vida de discentes e docentes, dentre elas a criação de ações capazes de diagnosticar e promover a saúde mental entre esse público. “Não estamos falando de deixar psicólogos á disposição nos PPGs, mas de se ter uma prática de escuta qualificada. Promover a qualidade de vida é melhorar também a saúde acadêmica dos programas. Qualquer mudança que possa ser fonte de estresse e ansiedade, que vá gerar uma demanda aos estudantes, deveria ser debatida com eles”, salientou o pesquisador.
Em sua avaliação final, o professor Sérgio Freire citou o estabelecimento de uma relação saudável entre orientandos e orientadores, inclusive pela racionalização do processo (planejamento e adaptações conforme cada perfil), e o zelo pela própria saúde mental. “Os docentes, muitas vezes, precisam de auxílio profissional qualificado, de modo que não projetem nos seus orientandos suas próprias angústias”, frisou.
Na Ufam, há projetos voltados ao atendimento psicológico, como o Centro de Serviços de Psicologia Aplicada (CSPA), Clínica-Escola da Faculdade de Psicologia (Fapsi) e iniciativas promovidas pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progesp).