Quatorze crianças da Aldeia Guarani da Mata Verde Bonita, localizada em Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tiveram um dia de experiências na última terça-feira (16). Pela primeira vez, visitaram a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Vestidos à moda de 1897, ano de fundação da ABL, os atores Paula Sandroni e Alexandre Mofati recepcionaram os pequenos visitantes e contaram toda a história, como a academia foi fundada por Machado de Assis para preservar a língua e a literatura nacionais.
Na sala decorada em homenagem a Machado de Assis, tiveram a oportunidade de conhecer peças usadas pelo escritor no dia a dia, como o papel mata-borrão com que Machado secava o excesso de tinta líquida da caneta tinteiro. No livro de visitas da academia, os indígenas deixaram os nomes registrados em guarani e em português.
“Em nome da comunidade da Aldeia da Mata Verde Bonita, a gente está gostando muito e as crianças estão aprendendo também. Estou emocionada. Eu tenho 38 anos, mas nunca pensei que ia colocar meus pés aqui”, disse a cacique Jurema Nunes de Oliveira.
Depois de percorrer todas as instalações, os visitantes voltaram ao Salão Nobre, onde ocorrem as cerimônias de posse dos imortais. Lá, as crianças indígenas cantaram em guarani uma música em agradecimento ao Deus Tupã para funcionários da ABL. A música escolhida foi “oreru nhamandú tupã oreru”, que significa, em tradução livre, “nossos pais são o sol e o trovão”. Eles ainda sentaram nas cadeiras, estilo Luis XVI, onde estão inscritos os nomes dos patronos homenageados pelos imortais.
O pequeno Fabrício, ou Tataendy em guarani, em poucas palavras, resumiu o que achou da visita: “Tudo legal”.
O indigenista José Bessa Freire, que trabalha há mais de 50 anos com educação indígena em universidades de Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e Amazonas, foi quem fez o primeiro contato com o presidente da ABL, Marco Lucchesi, para organizar a visita.
Atualmente, existem 2.900 escolas indígenas no Brasil, com 260 mil alunos. Essas escolas alfabetizam os índios na língua materna, e eles aprendem o português como segunda língua. A cacique Jurema e o irmão foram alunos do indigenista. “Eles são professores indígenas”, disse Bessa.
Bessa destacou também que hoje há 56.750 índios estudando em universidades públicas. “Lota um Maracanã. Então, isso vai criando um caldo”, disse. “O grande sonho é ter um índio na academia”, acrescentou.
“Essa academia vai de Gonçalves Dias, passa por Roquette Pinto, tem Darcy Ribeiro. Ainda que não houvesse essa plêiade de acadêmicos, o lugar dos índios é o lugar de todos nós. A academia está aprendendo com eles e esse simbolismo é muito forte”, disse Lucchesi sobre a visita.
Saiba mais
Edição: Carolina Pimentel
Quatorze crianças da Aldeia Guarani da Mata Verde Bonita, localizada em Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tiveram um dia de experiências na última terça-feira (16). Pela primeira vez, visitaram a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Vestidos à moda de 1897, ano de fundação da ABL, os atores Paula Sandroni e Alexandre Mofati recepcionaram os pequenos visitantes e contaram toda a história, como a academia foi fundada por Machado de Assis para preservar a língua e a literatura nacionais.
Na sala decorada em homenagem a Machado de Assis, tiveram a oportunidade de conhecer peças usadas pelo escritor no dia a dia, como o papel mata-borrão com que Machado secava o excesso de tinta líquida da caneta tinteiro. No livro de visitas da academia, os indígenas deixaram os nomes registrados em guarani e em português.
“Em nome da comunidade da Aldeia da Mata Verde Bonita, a gente está gostando muito e as crianças estão aprendendo também. Estou emocionada. Eu tenho 38 anos, mas nunca pensei que ia colocar meus pés aqui”, disse a cacique Jurema Nunes de Oliveira.
Depois de percorrer todas as instalações, os visitantes voltaram ao Salão Nobre, onde ocorrem as cerimônias de posse dos imortais. Lá, as crianças indígenas cantaram em guarani uma música em agradecimento ao Deus Tupã para funcionários da ABL. A música escolhida foi “oreru nhamandú tupã oreru”, que significa, em tradução livre, “nossos pais são o sol e o trovão”. Eles ainda sentaram nas cadeiras, estilo Luis XVI, onde estão inscritos os nomes dos patronos homenageados pelos imortais.
O pequeno Fabrício, ou Tataendy em guarani, em poucas palavras, resumiu o que achou da visita: “Tudo legal”.
O indigenista José Bessa Freire, que trabalha há mais de 50 anos com educação indígena em universidades de Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e Amazonas, foi quem fez o primeiro contato com o presidente da ABL, Marco Lucchesi, para organizar a visita.
Atualmente, existem 2.900 escolas indígenas no Brasil, com 260 mil alunos. Essas escolas alfabetizam os índios na língua materna, e eles aprendem o português como segunda língua. A cacique Jurema e o irmão foram alunos do indigenista. “Eles são professores indígenas”, disse Bessa.
Bessa destacou também que hoje há 56.750 índios estudando em universidades públicas. “Lota um Maracanã. Então, isso vai criando um caldo”, disse. “O grande sonho é ter um índio na academia”, acrescentou.
“Essa academia vai de Gonçalves Dias, passa por Roquette Pinto, tem Darcy Ribeiro. Ainda que não houvesse essa plêiade de acadêmicos, o lugar dos índios é o lugar de todos nós. A academia está aprendendo com eles e esse simbolismo é muito forte”, disse Lucchesi sobre a visita.
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Edição: Carolina Pimentel