Com mais de 800 pontos na somatória da atuação acadêmica, o professor superou em seis vezes o exigido para obter o título, que é 120 pontos
“Homo Academicus – como me tornei o que sou”. É assim que o professor Antônio Carlos Witkoski, mestre, doutor e pós-doutor em Sociologia, intitula a trajetória de três décadas dedicadas ao ensino e à pesquisa, mas também ao conhecimento sobre a Amazônia pela atuação em grupos interdisciplinares da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde leciona desde 1991. A defesa do memorial acadêmico, formalidade que garante o grau de professor titular da Instituição, ocorreu na tarde desta terça-feira, 26, no Centro de Ciências do Ambiente (CCA), setor Sul do Campus Sede.
Segundo o professor, o termo “homo academicus” é uma simples alusão ao conceito cunhado por Pierre Bourdieu. “Abordamos problemas teóricos e metodológicos, da produção do conhecimento em grandes campos científicos, com suas as intersecções. Hoje eu estou trabalhando num Programa interdisciplinar, o PPGCASA”, delimitou o docente. Já em alusão a Nietzsche (1995), ele mencionou as reflexões filosóficas do teórico em relação ao que se tornou, ao avaliar a si mesmo e aos seus contemporâneos. “O homem é responsável por todas as escolhas que ele faz, e também pelas que ele não faz”, sustentou o professor Witkoski.
A banca examinadora foi presidida pela professora Marilene Correa, do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), e composta pela professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edna Maria Ramos de Castro, cujo parecer confidencial foi lido pelo professor Antônio de Lima Mesquita. Além deles, o professor do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), Hiroshi Noda e o suplente da professora Vera Maria e Val, professor Carlos Carvalho Freitas, também participaram.
Ao apresentar os trabalhos, a professora Marilene Corrêa destacou a produção científica do avaliando. “A pontuação mínima para avançar do nível de Associado IV para o de Titular é de 120 pontos. No caso do professor Witkoski, ele ultrapassou os 800 pontos. Esta defesa pública é uma etapa formal definida pela portaria nº 1.012, de 13 de março de 2019”, explicou a presidente da banca.
O professor Witkoski obteve precisamente 864,13 pontos, esses distribuídos entre os quesitos Ensino e Orientação (127,9), Pesquisa e Produção Acadêmica (487), Extensão (25), Atividades Editoriais (109) e Atividades Administrativas e Bancas Examinadoras (115,3). Somente em termos de orientação de pesquisas na pós-graduação, o professor teve uma média anual de 3,3 trabalhos orientados, sendo 23 de mestrado e dez de doutorado.
Crescimento intelectual
“Nasci em 1955, no norte do Paraná, Santo Antônio da Platina, onde havia muitas plantações de café. Sou filho de torneiro mecânico, mas não segui na mesma profissão. O hábito de ler foi adquirido com uma tia, professora primária; e a prática de leitura compartilhada no início dos anos 1970”, recordou o professor, ao citar ainda que um de seus ensinamentos, nas aulas de Sociologia ministrada aos graduandos, é sobre a habilidade dos seres humanos de reestruturar seus hábitos. “Essa é uma possibilidade aberta a todos nós”, resumiu.
Aos 25 anos, ele ingressou no curso de Geologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), instituição privada de tradição jesuíta. Passado um ano, e já envolvido na Pastoral Universitária, sob a orientação de teólogos da Teologia da Libertação, o jovem decidiu mudar de curso. Em 1981, iniciou a graduação em Sociologia. “Qual será o meu projeto de vida? Como posso ser o sujeito de minhas escolhas? Depois de me questionar, cheguei à clareza de cursar Ciências Sociais”, relatou o docente, ao citar a influência de Gramsci, na obra Os Intelectuais e a Organização da cultura.
“E, quando a gente começa a estudar a Sociologia, o nosso mundo sai dos eixos, e se cria a possibilidade de vermos o mundo de maneiras diferentes. Àquela altura, eu desejada ser rico simbolicamente”, afirmou o docente. E os estudos tiveram continuidade com o mestrado pela Universidade de Brasília, em 1988, e o doutorado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), no ano de 2002. Só mais recentemente, em 2018, é que o professor Antônio Carlos foi para a Universidade do Minho, em Portugal, onde, sob a orientação do professor Manuel Carlos Silva, “um comunista à moda antiga, e também um humanista”, realizou seu pós-doutorado.
Na Ufam
Já com o título de mestre, em 1990, o professor Witkoski prestou concurso para lecionar nesta Universidade, logrando êxito. Logo que chegou, ele foi convidado pela professora Sandra Noda (in memoriam) para participar de um projeto sobre ribeirinhos no interior do Amazonas. “Esse trabalho fez toda a diferença para ficar aqui. Descobri um universo de investigação absolutamente diferente. É uma realidade que me encanta muito até hoje – o mundo rural amazônico”, disse o professor.
Outra experiência que ele cita com grande carinho é a edição da revista Somanlu, periódico que reúne textos artigos que resultem de pesquisas sobre os mais diversos temas das ciências interdisciplinares. “Esse trabalho trouxe outra dimensão para a minha vida, e eu penso que foi uma colaboração importante para a pós-graduação”, avalia o professor.
Em quase 30 anos de Ufam, ele acumula atuações como professor associado IV no Departamento de Ciências Sociais, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA), além de ser colaborador do PPG em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), líder do Grupo de Pesquisa ‘Sociedade, Trabalho e Ambiente’ e consultor externo da Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).