Ajudar ao próximo e não esperar nada em troca, pelo simples prazer de contribuir. Essa filosofia de vida tem sido aplicada pela técnica de enfermagem, Janaína Lopes da Silva, 24 anos, que há cinco meses presta serviço voluntário no serviço de Quimioterapia da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (Susam).
O trabalho voluntário é uma atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais – Lei 9.608/1998. Na FCecon, a atividade é regulada pela Portaria n° 096/2019, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) no dia 10 de maio.
Referência na região Norte no tratamento de câncer, a Fundação conta com diversos profissionais voluntários que atuam em serviços como Nutrição, Oncologia Clínica, Ambulatório, Quimioterapia, entre outros.
Trabalho gratificante – Natural do Rio Grande do Norte (RN) e morando em Manaus há dois anos, Janaína Lopes trabalha 20 horas semanais na unidade hospitalar, além de prestar serviço voluntário no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. Ela pontuou que viu no serviço voluntário uma oportunidade para ajudar ao próximo, além de receber carinho dos pacientes. “Sinto-me feliz porque acredito que meu trabalho proporciona alegria aos pacientes. É gratificante”, destacou.
Conforme Janaína, a Fundação precisa muito deste tipo de serviço porque a demanda é grande. Ela disse que os pacientes necessitam não apenas de cuidados clínicos, mas também de atenção. “Além da proximidade com os usuários, a experiência proporciona o conhecimento sobre os tipos de quimioterápicos, ordem de efusão, reações adversas, entre outros”, afirmou.
Lados clínico e emocional – O contato com o paciente, de acordo com Janaína Lopes, precisa ser visto sob duas vertentes: os lados clínico e emocional. Ela explicou que os pacientes estão fragilizados e, por isso, há a dificuldade para a administração dos quimioterápicos, assim, existe o medo de extravasamento dos produtos vesicantes – químicos que em contato com a pele podem causar bolhas e irritação.
“Precisamos passar segurança. Alguns pacientes chegam com o pensamento de morte, chorando muito e não conseguem aceitar que estão com câncer. Devemos acalmá-los para iniciar o tratamento. É uma missão árdua e, ao mesmo tempo, encantadora. Além do cuidado clínico, temos que entender o emocional. Então, tornamo-nos amigos, sabemos os nomes, as fragilidades e medos. É difícil ir para casa e deixar tudo no hospital”, confessou.
Amor ao próximo – Quem também viu no serviço voluntário uma forma de ajudar ao próximo foi a estudante do 8° período de Nutrição da Faculdade Fametro, Gelthianne Bettker, 28 anos. Há dois meses ela dedica 20 semanais ao restaurante hospitalar, sendo responsável pelas visitas às enfermarias feminina, masculina e infantil, onde verifica se os pacientes estão se alimento e respondendo as dietas prescritas.
Natural do Rio Grande do Sul (RS), Bettker disse que há três anos mora em Manaus. Carinhosamente chamada pelos pacientes de Xuxa, em referência a “Rainha dos Baixinhos”, ela contou que escolheu a Fundação para prestar serviço voluntário porque acredita que os pacientes com câncer precisam de uma atenção diferenciada.
“Apesar de ter que trabalhar 20 horas semanais, às vezes ultrapasso o tempo dedicado ao serviço, porque acredito que os usuários sentem minha falta. Eles passam mensagens perguntando: ‘Xuxa, tu vais vir me ver hoje?’! O contato com eles mudou minha vida. Aprendi muitas lições. Passei a valorizar as pequenas coisas e a agradecer mais. No final, o que importa é ter saúde”, lembrou.
Conforme a futura nutricionista – faltam 15 dias para a conclusão do curso –, todos têm uma missão, e a dela é realizar serviço voluntário. Ela revela que já trabalhou no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, Maternidade Ana Braga e na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).
“Já recebi mensagens de agradecimento de pacientes, fui a velório, e enquanto puder ajudar, estarei pela FCecon”, salientou.
Regulamentação – Conforme os assessores jurídicos do hospital, Vitor Berenguer e Igor Barbosa, a Portaria n° 096/2019 é reflexo do compromisso da gestão com as pessoas que desempenham as atividades voluntárias, conforme autorizado pela Lei Federal 9.608/1998.
Segundo Berenguer, a regulamentação traz maior segurança para profissionais e usuários do serviço, uma vez que permite maior controle das atividades desenvolvidas pelos voluntários. Ele frisou que dessa forma, espontaneamente, os profissionais podem compartilhar de seu tempo, conhecimento e experiência para o acrescimento e aperfeiçoamento da Fundação.
De acordo com Igor Barbosa, a medida preenche uma lacuna que existia, pois o serviço não era regulamentado, sobretudo nos atuais moldes da Portaria nº 096/2019. “O serviço de voluntariado é feito com rígido controle, devendo os interessados assumir a responsabilidade por seus atos, inclusive com a assinatura de termo de confidencialidade, resguardando em todos os casos a figura dos pacientes e usuários do serviço”, finalizou.