Direitos do Cidadão
2 de Julho de 2019 às 17h30
Sucesso pleno no II Pedal Humanitário
Passeio ciclístico teve 130 ciclistas e arrecadou mais de 400 quilos de alimentos para os refugiados e imigrantes
Uma linda manhã de sol e temperatura amena motivou 130 ciclistas a participarem do II Pedal Humanitário, realizado na manhã do último sábado (29) em Florianópolis. O grupo pedalou por mais humanidade, acolhimento, tolerância e fraternidade para com imigrantes e refugiados. E permitiu ainda que fossem arrecadados cerca de 400 quilos de alimentos.
Nesta segunda edição do Pedal participaram vários imigrantes, que sentiram-se integrados e muito felizes. A colombiana Reina Bejarano Lopez disse que pedalar é como voar e que o Pedal teve a força de integrar. “Valorizo muito esse evento, porque é uma oportunidade de se encontrar, conhecer, falar e praticar esporte”, disse.
O senegalês Buba Cardief agradeceu a oportunidade e disse que estar presente foi algo muito bom, de intercâmbio e de acolhimento. “Não teve diferenças.” Essa é a essência do Pedal, um evento “com” os refugiados e imigrantes e não “para” eles. No Parque de Coqueiros, onde terminou o Pedal, o haitiano Clefaude Estimable pediu um minuto de silêncio em memória do irmão haitiano Kerby Tinge, covardemente assassinado no dia 2 de junho na Grande Florianópolis, vítima do racismo e da xenofobia.
A equipe do Bem Viver, programa do Ministério Público Federal (MPF) em Santa Catarina, agradece aos que colaboraram e contribuíram para que o II Pedal Humanitário fosse concretizado, como o procurador-chefe Darlan Airton Dias, que novamente pedalou com o Grupo Escoteiro do Ar Hercílio Luz, por meio do qual estende sua gratidão a todos. “Fizemos um grande evento, estamos todos muito felizes. A fala do Clefaude sobre o Pedal resume os nossos sentimentos: ajudar o outro é ajudar a nós mesmos, pois esse outro faz parte da nossa existência, sejam imigrantes ou nativos”, disse Cynthia de Moura Orengo, coordenadora da organização.
Um dos objetivos do Pedal, não o principal, foi a arrecadação de três quilos de alimentos não perecíveis (arroz, feijão e farinha de trigo) por participante para as famílias dos refugiados e imigrantes. Os alimentos serão distribuídos pelo Círculos de Hospitalidade e pelo Centro de Referência ao Atendimento de Refugiados e Imigrantes (Crai), organizações que realizaram o Pedal em parceria com o MPF/SC.
O passeio saiu da praça da Justiça Federal, ao lado do MPF, pela Avenida Beira-Mar Norte. Nesse trajeto teve também a participação de ciclistas do Projeto Novo Horizonte para cegos, que chegou ao Parque de Coqueiros, no lado continental de Florianópolis, com muita vibração, alegria e celebração. Em Coqueiros foi montada a Feira Multicultural, com alimentos, artesanato, arte e bijuterias, feitos por imigrantes e refugiados com objetivo de geração de renda e inserção na comunidade.
Avaliação – “Os objetivos do Pedal foram atingidos plenamente. Ainda estou emocionada e impactada com o evento, que superou todas as expectativas. Nós conseguimos o que buscávamos desde a primeira edição: os imigrantes pedalando juntos. Afinal, a proposta do Pedal é também a integração e a inclusão da população imigrante. Um evento com eles e não para eles. Todos pedalamos juntos, haitianos, venezuelanos, senegaleses, angolanos, brasileiros, famílias inteiras, felizes”, avaliou a coordenadora Cynthia Orengo.
“O Pedal é uma forma de dizer o quanto somos solidários e humanitários. É muito importante falar dos deslocamentos forçados como estamos vivendo e lembrarmos, como a Bruna Kadletz disse, que estamos vivendo a maior crise humanitária depois da Segunda Guerra Mundial”, lembrou a representante do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) Giselle Leite, que veio de São Paulo para participar da atividade.
Segundo ela, em 20 de junho foi celebrado o Dia Mundial do Refugiado e na data a Acnur lançou o relatório Tendências Globais, que mostra que há 70,8 milhões de pessoas no mundo em deslocamento forçado. E, dessas, mais de 20 milhões são refugiadas. O número de refúgios aumentou muito especialmente de venezuelanos. O Brasil tem a ganhar com o acolhimento de imigrantes e refugiados. “É importante discutir esse tema”, disse Giselle.
“O Pedal e a feira multicultural despertam para a presença dessas comunidades de migrantes e refugiados que muito contribuem para o dia a dia da cidade”, afirmou o coordenador do Centro de Referência ao Atendimento de Refugiados e Imigrantes (Crai) Luciano Leite da Silva Filho.
Formar alianças e aliados é uma forma de defender serviços de qualidade no atendimento a migrantes e refugiados, reivindicou a agente de integração do Crai Gabriela Martini. O Crai poderá fechar as portas em setembro e essas comunidades ficarão sem atendimento. Ela comemorou a participação de refugiados e imigrantes no Pedal com bicicletas emprestadas pela Yellow. “Deixou a gente bem feliz, porque é um resultado de que estamos conseguindo promover atividades de integração e troca de cultura entre os brasileiros e o nosso público que são os migrantes e refugiados,” disse.
A co-fundadora do Círculos de Hospitalidade, Bruna Kadletz, e uma das organizadoras do evento, agradeceu a todos que pedalaram para um mundo mais fraterno e afetivo e lembrou que Santa Catarina é o terceiro estado que mais recebe solicitação de refúgio e o quarto que mais recebe venezuelanos no Brasil. “Quero agradecer a presença de todos os imigrantes e refugiados que estão aqui e que este dia e este mês é para vocês. Que a gente celebra a presença de vocês na cidade. Que a gente se orgulha da história, de coragem e resiliência de vocês e que têm muito a nos ensinar.”
O presidente da comissão de Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal Arthur Luba disse que a PRF, parceira na organização do Pedal Humanitário, atua em ações de prevenção e repressão a crimes contra os direitos humanos. “Destaco que a imigração forçada traz vulnerabilidade aos migrantes. A PRF entende ser necessário que sejam feitas ações de conscientização e de campanha. Em destaque, o combate à xenofobia e ao racismo e trazer visibilidade e consciência.”
O II Pedal Humanitário foi promovido pelo Programa Bem Viver do MPF em Santa Catarina, em parceria com o Círculos de Hospitalidade, Crai/SC, Polícia Rodoviária Federal, por meio da Comissão de Direitos Humanos, que agradecem aos participantes, voluntários, colaboradores e ao artista Luciano Martins, Engie, Espaço Saúde, Yellow, Guarda Municipal, Cicles Hoffmann, Justiça Federal, Eletrosul e Usina do Hambúrguer, pelo apoio para a concretização do evento.
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