Outro tema explorado pela CPI da Pandemia nos primeiros 30 dias foi a compra de vacinas contra o coronavírus. O ex-secretário de Comunicação da Presidência da República Fabio Wajngarten disse à comissão que o Palácio do Planalto demorou dois meses para responder uma carta em que a farmacêutica Pfizer prometia doses do imunizante ao Brasil. Mas ele poupou críticas a Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello.
O presidente da empresa na América Latina, Carlos Murillo, confirmou a demora para a negociação das vacinas por parte do governo brasileiro. Segundo ele, a Pfizer fez três ofertas ao Brasil em agosto de 2020. Elas previam a entrega de até 70 milhões de doses ainda no ano passado. O Brasil começou a imunização contra o coronavírus em janeiro de 2021 com a vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan.
O diretor do Butantan, Dimas Covas, foi o último a depor na primeira fase de investigações. Ele disse ter feito a primeira oferta de vacinas contra a covid-19 ao Ministério da Saúde em 30 julho de 2020, mas — assim como a Pfizer — também ficou sem resposta. Seriam 60 milhões de doses, entregues no último trimestre daquele ano. Segundo Covas, o Brasil poderia ter sido o primeiro país a iniciar a vacinação.
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo também foi convocado a depor. Para senadores que participaram do depoimento, os atritos do Brasil com a China durante a pandemia dificultaram a aquisição do insumo farmacêutico ativo (IFA) usado para a produção das vacinas CoronaVac e AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O ex-chanceler negou que a atuação dele tenha prejudicado a compra de vacinas.
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, foi questionado sobre a demora para a autorização do imunizante russo Sputnik V. Ele disse que a liberação do produto depende da apresentação de documentos pelo fabricante.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), se o governo federal tivesse comprado as vacinas do Butantan e da Pfizer quando foram oferecidas, o país já poderia ter imunizado todo o grupo de risco previsto no Plano Nacional de Imunização (PNI). Até esta sexta-feira (28), 10% da população recebeu as duas doses da vacina.
— Se você juntar as doses da CoronaVac e as propostas que foram feitas pela Pfizer até o primeiro trimestre de 2021, além da Covaxin e da AstraZeneca, nós já teríamos vacinado toda aquela população vulnerável brasileira. Aqueles 70 milhões de pessoas com mais de 60 anos, com comorbidades e de áreas com alta exposição, como segurança pública e profissionais de saúde. É demolidor. Uma demonstração clara da omissão e do desinteresse do governo — denunciou.
Para o senador Marcos Rogério (DEM-RO), o Ministério da Saúde jamais interrompeu a negociação para a compra de imunizantes. Segundo ele, apesar das declarações e postagens do presidente Jair Bolsonaro contrárias à aquisição da CoronaVac, a responsabilidade pela aquisição era exclusiva da pasta.
— Quem negocia com o Instituto Butantan é o Ministério da Saúde. Não é o presidente da República, não é outro ministro. Quem negocia aquisição de vacina é o Ministério da Saúde, e essa negociação começou desde o primeiro encontro, em julho do ano passado. A partir de agosto, ela se intensifica com indicativo de compra a partir do momento em que a vacina tivesse todas as credencias (da Anvisa). Com a autorização, o contrato sai — defende.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)