Jornalista e historiador Laurentino Gomes apresenta palestra sobre a construção da identidade brasileira
Autor da trilogia best-seller 1808, 1822 e 1889, o jornalista e historiador Laurentino Gomes proferiu a palestra “A construção do Brasil, da Independência à República”, na manhã desta sexta-feira (14), na Sala de Sessões da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A exposição faz parte do programa “Hora de Atualização”, realizado desde 2015 pelo Gabinete do ministro Edson Fachin.
Laurentino Gomes abriu sua palestra indagando por que, em um país onde pouco se lê, livros de história e espiritualistas se tornam campões de vendas? Segundo ele, as pessoas buscam identidade e dela se aproximam através da espiritualidade e da história. “Porque essas duas dimensões ajudam a explicar quem nós somos, como seres humanos e como sociedade, e o que nos diferencia”, disse, acrescentando que a história é a ferramenta de construção da identidade. “Uma sociedade que não entende de onde veio e o que é hoje, não estará preparada para construir o futuro”, ponderou.
Ele afirmou que para se construir a identidade futura é preciso desconstruir a identidade passada, especialmente os mitos cultivados que passaram a fazer parte de nossa cultura. Perpassando o contexto histórico de sua trilogia – que começa com a mudança da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808, chega à independência em 1822 e termina na proclamação da República em 1889 – o jornalista afirma que a identidade de uma nação se constrói, não se impõe.
O autor ressaltou que relações perniciosas entre o interesse público e o particular já existiam em 1808 e que, desde então, o Brasil carrega um passivo histórico decorrente da escravidão, de desigualdades sociais, do analfabetismo e de outros problemas sociais.
Em sua avaliação, é preciso defender a democracia com todos os desafios que ela impõe, como a necessidade de se fazer escolhas, de ter paciência para alcançar os resultados almejados, de perseverar, apontando que o Estado brasileiro é reflexo da sociedade brasileira. “O desafio da República está em qualificar a sociedade brasileira, pela educação, pela cultura, pela leitura, para que essa sociedade seja capaz de constituir um Estado melhor”, ressaltou, conclamando que haja perseverança, paciência e esperança na construção da identidade brasileira.
Abertura
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, abriu a conferência afirmando que, “para se compreender o presente e preparar o futuro é impossível fazê-lo sem conhecer nossas origens e nossa história”. Toffoli falou sobre a importância de se construir uma unidade social, longe do ódio e do medo que se dissemina via redes sociais. “Manter a construção da unidade nacional é tarefa permanente e constitucionalmente dada pela substituição do imperador pelo moderador que é este Supremo Tribunal Federal”, disse o ministro.
O ministro Edson Fachin destacou a importância do programa Hora de Atualização, que, desde agosto de 2015 traz ao STF a participação de grandes personalidades brasileiras e estrangeiras para debater temas específicos ou obras e autores de relevo.
Para Fachin, é importante incentivar o olhar plural sobre a sociedade e a recuperação histórica de personagens que ficaram esquecidos. “Não raro a dúvida move mais o mundo do que as certezas”, disse o ministro, ao comentar as indagações apresentadas pelo historiador Laurentino Gomes em sua palestra.
“Nós não estamos no Brasil contemplando metaforicamente o quadro de Monalisa, no Museu do Louvre, em um silêncio respeitoso. Estamos em permanente construção de um futuro que possamos nos orgulhar mais do que as circunstâncias que se apresentam nos dias correntes”, disse Fachin. Segundo o ministro, “o Brasil é um permanente canteiro de obras”, destacando que a mensagem que fica é a de realidade e de esperança do que se pode extrair do passado e projetar ao futuro.
Homenagem
Durante sua explanação, o ministro Dias Toffoli prestou homenagem ao jornalista, escritor e colunista da Folha de São Paulo Clóvis Rossi, que faleceu na madrugada desta sexta-feira (14), em São Paulo, em decorrência de problemas cardíacos. “Ficam aqui as nossas homenagens e a nossa declaração de respeito, de solidariedade e de pêsames à família, aos amigos e à Folha de São Paulo, onde ele trabalhou durante tantos anos”, disse Toffoli.
Também participaram da conferência a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, autoridades e convidados.
AR/EH