Direitos do Cidadão
1 de Julho de 2019 às 17h25
MPF/RS promove espaço de conversa no Dia do Orgulho LGBTQI+
A terceira edição da iniciativa Lugar(es) de Fala, em parceria com a PRR4 e o apoio do TRF4, ocorreu na última sexta (28), com show de encerramento da cantora Valéria Houston Barcellos
A última sexta-feira (28) marcou os 50 anos da Revolta de Stonewall, episódio que deu origem ao Dia do Orgulho LGBTQI+, desde então celebrado mundo afora. E para fazer jus à ocasião especial, a Procuradoria da República no RS (PR/RS) promoveu um espaço de conversa aberto ao público dedicado à temática LGBTQI+. Parte da iniciativa Lugar(es) de Fala, idealizada pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) e pelo Comitê de Gênero e Raça da PR/RS – e que nesta edição contou com a parceria da Comissão Pró-equidade de Gênero e Raça da PRR4 e o apoio da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão do TRF4 –, o encontro reuniu um público diverso, entre ativistas sociais, professores, estudantes, além de servidores e membros do MPF e de outros órgãos públicos.
Ao dar as boas-vindas aos presentes, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Enrico Rodrigues de Freitas, destacou que aquele era mais do que um evento de celebração, pois se propunha também a “marcar uma reafirmação de objetivos presentes na Constituição Federal, no que diz respeito à construção de uma sociedade justa e solidária, e de uma sociedade livre de qualquer preconceito”.
Conduzido pela servidora Lisane Berlato, integrante do Comitê de Gênero e Raça da PR/RS, o encontro seguiu com uma sequência de falas corajosas, comoventes, mas também combativas, e muitas vezes didáticas, de cinco convidados que se revezaram em depoimentos sobre preconceito, discriminação, violência, representatividade, identidade de gênero, invisibilidade, educação, políticas públicas, entre outras questões que afetam o dia a dia de pessoas LGBTQI+.
A primeira a falar foi a artista visual Priscila Fróes, professora do Coletivo de Educação Transenem de Porto Alegre, projeto que auxilia transexuais, travestis e pessoas LGB (lésbicas, gays e bissexuais) em situação de vulnerabilidade a concluir o ensino médio e a ingressar no ensino superior. Segundo ela, a falta de estudo, associada ao preconceito e à transfobia, faz com que essas pessoas encontrem muita dificuldade de adentrar o mercado de trabalho, o que acaba gerando dados alarmantes, como os que apontam que cerca de 90% das travestis no país tenham que viver da prostituição. “Elas são expulsas dos seus lares e da escola também, que não as acolhe, e quando decidem voltar a estudar encontram uma outra barreira, porque estão sozinhas e precisam trabalhar para se sustentar, e como às vezes não possuem nem o ensino fundamental completo, acabam se prostituindo”, afirmou.
A educação das pessoas trans foi um ponto igualmente destacado por Caio de Souza Tedesco, estudante de História na Ufrgs e também professor do Transenem, quando revelou que apenas 0,02% das pessoas trans do país estão nas universidades, segundo pesquisa recente do projeto Além do Arco-íris, da ONG AfroReggae. “Eu vou ser a primeira pessoa trans a se formar no curso de História da Ufgrs, agora em 2019, em um curso que já tem mais de 60 anos. Eu não estou feliz por isso; é alarmante que eu seja a primeira pessoa”, lamentou.
Antônio Jeferson Barreto Xavier, doutorando em Educação pela Ufrgs, deu sequência à conversa falando um pouco da sua pesquisa na área de Educação, Gênero e Sexualidade, em que aborda o tema “masculinidades da roça”. Apresentando-se como homem gay, cisgênero, negro, nordestino e “da roça”, Jeferson destacou a importância de falar sobre a sua história nos seus projetos e pesquisas, “porque as nossas vidas são exemplos de sobrevivência e resistência, cada um no seu lugar de fala”. E concluiu compartilhando a alegria de poder celebrar pela primeira vez, aos 31 anos, o Dia do Orgulho LGBTQI+ falando publicamente do orgulho de ser quem é.
Integrando o time de convidados, a coordenadora da associação “Mães pela Diversidade” no RS, Renata dos Anjos, revelou que cerca de 90% da mães que integram a associação têm os seus casamentos desfeitos, em razão do preconceito dos companheiros e maridos, que não aceitam ter um filho ou filha LGBT. “Eu jamais me imaginaria como uma ativista da causa LGBT, mas a vida me deu essa oportunidade. E a gente usa as nossas dores para levar a informação, porque é a desinformação que gera o preconceito”, sentenciou. Renata estava acompanhada de outra integrante da “Mães pela Diversidade”, Maristela Castilhos, que fez um relato bastante pessoal e emocionado sobre a trajetória difícil, mas por fim gratificante, vivida ao lado do filho trans.
A professora Liane Susan Muller, doutoranda em História e ex-integrante do grupo Nuances, encerrou a roda de falas relembrando a sua rica história de luta pela visibilidade lésbica. “O meu lugar de fala, nesse dia 28 de junho, dia do orgulho LGBT, é o lugar de uma das três mulheres que há 22 anos, em 1997, carregou a faixa que abria a primeira Parada Livre de Porto Alegre” contou, despertando aplausos de todos os presentes. “Houve um momento em que eu estive nessa luta profundamente sozinha, mas agora, 22 anos depois, nós já somos um exército”, completou.
Concluídas as falas, o público foi chamado ao debate, colocando questões ou dividindo seus próprios relatos. Na sequência, os convidados receberam das mãos do procurador regional dos Direitos do Cidadão, Enrico Rodrigues de Freitas, e da procuradora da República Suzete Bragagnolo, coordenadora do Comitê de Gênero e Raça da PR/RS, um certificado de participação como forma de agradecimento.
E para fechar com chave de ouro, o Lugar(es) de Fala recebeu a “fala artística” da cantora Valéria Houston Barcellos, na forma de um show de voz e violão que divertiu e emocionou a todos com interpretações de composições autorais, clássicos da MPB e até da chanson francesa, sempre intercaladas por discursos breves mas contundentes sobre a realidade das pessoas LGBTQI+ no país, em especial as transexuais e as travestis. A sua versão emocionada do clássico de Chico Buarque “Geni e o Zepelim” levou o público às lágrimas. “Dá um abraço na Geni”, cantou ao final, reescrevendo a letra de Chico e sendo prontamente atendida pela plateia.
A iniciativa – Essa foi a terceira edição da iniciativa Lugar(es) de Fala, que visa a promover a abertura de um espaço que possibilite escutas e falas de pessoas engajadas em lutas, movimentos sociais ou causas dos direitos humanos, abordando questões que envolvam principalmente, mas não exclusivamente, reflexões sobre gênero, raça, desigualdade social, e entendendo a arte como uma forma de “fala”.
De acordo com a servidora Lisane Berlato, a iniciativa cumpre o importante papel, que acredita ser de todos os órgão públicos, de transformar instituições como o MPF em lugares de educação não-formal, dando voz aos movimentos sociais e ouvindo diferentes falas na origem.
A edição anterior do Lugar(es) de Fala, que também conta com o apoio do Projeto Mais QVT MPF-RS “Você em Primeiro Lugar”, foi realizada no mês de março e abordou o tema “Narrativas Femininas: Mulheres de Luta”, encerrando com um show da rapper porto-alegrense Negra Jaque.
Assessoria de Comunicação Social
Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul
Telefone MPF: (51) 3284-7200
Telefones ASCOM: (51) 3284-7370 / 3284-7421 / 3284-7369 / 98423 9146
Site: www.mpf.mp.br/rs
E-mail: PRRS-Ascom@mpf.mp.br
Twitter: http://twitter.com/MPF_RS
Facebook: www.facebook.com/MPFnoRS