Protesto marca sessão solene que homenageou os 131 anos da assinatura da Lei Áurea
Deputados divergiram sobre o papel da princesa Isabel na abolição da escravatura no país durante sessão solene em homenagem aos 131 anos da assinatura da Lei Áurea. O evento foi marcado por protestos do movimento negro, que não aceita o título de redentora, comumente dado à então regente do Império, que assinou a lei de libertação dos escravos em 13 de maio de 1888.
Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Luiz Philippe de Orleans e Bragança defendeu o legado da princesa Isabel
Os ativistas afirmaram que enfatizar o papel da princesa Isabel nesse processo desvaloriza as lutas históricas do movimento e personagens como o abolicionista baiano André Rebouças; Luís Gama, considerado o patrono da abolição da escravidão no país; Dragão do Mar, uma importante liderança no Ceará que combateu o tráfico negreiro; além de Zumbi, Ganga Zumba e Dandara, importantes personagens de luta para contra a escravidão.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o papel da regente foi muito relevante para que a escravidão fosse abolida. Ele defendeu a valorização e preservação da história da princesa Isabel. Para Bolsonaro, ela estava à frente do seu tempo.
“Uma pessoa feminina que poucas pessoas fazem questão enaltecer por ser branca, por ser uma mulher de raça que naquele tempo já levantava bandeiras contra o regime escravocrata. Esse tipo de pessoa é o tipo de mulher que nós temos que trazer à luz para que seja lembrada”, defendeu.
Legado
O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), que é trineto da princesa Isabel, defendeu o legado da regente para a luta contra a escravidão. Ele lembrou que a abolição só foi possível pelo fato de o Brasil ter um estado forte e cristão. Orleans e Bragança também valorizou o papel dos abolicionistas no processo. Durante sua fala, foi vaiado por representantes do movimento negro e a sessão chegou a ser suspensa.
“A criação do Estado que domina a história, que domina as leis e a ordem, em seguida o norte moral dado pelo cristianismo, isso foi fundamental; e, também, os ativistas abolicionistas dotados sim, de uma consciência cristã, vivendo sim em paz criada por um estado de direito Esse sim conseguiram a mobilização”, disse o parlamentar.
Protesto
Antes da sessão solene, um protesto no salão verde da Câmara criticou a homenagem à princesa Isabel e à comemoração da abolição. A deputada Talíria Petrone (Psol-RJ) afirmou que a data serve para denunciar o racismo diário que a população negra sofre.
Michel Jesus/Câmara dos Deputados
Representantes do movimento negro afirmaram que a data é dia para denunciar o racismo
“Hoje é dia de denúncia de uma abolição inconclusa e de uma abolição que não foi conquistada por nenhuma princesa. Nós nascemos livres e nós também conquistamos com a luta de negros e negras escravizadas e escravizadas no passado colonial que não se encerrou. De um estado que traz execuções em cima de favelados, que têm cor, que têm mães negras”, criticou.
A ativista Deise Benedita também afirmou que a data é para fortalecer a luta do movimento negro.
“Nossos antepassados deram sangue para construir essa terra e não vamos aceitar que se homenageie uma mulher branca, que diz que nos deu a liberdade, não vamos pagar as balas que matam nossos filhos. Não podemos admitir que se comemore uma data que não representa a nossa luta. A data de 13 de maio, para nós, é o dia da denúncia contra o racismo, a discriminação e o preconceito”, disse.