Direitos do Cidadão
12 de Julho de 2021 às 17h55
Importância da família na inclusão da pessoa LGBTQIAP+ foi tema de roda de conversa na Bahia
Evento da Comissão de Gênero e Raça contou com integrantes do Coletivo Famílias pela Diversidade e do portal Dois Terços
Para a procuradora-chefe, Juliana Moraes, é papel do MPF fomentar esses debates (Imagem: Ascom -MPF/BA)
No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+, celebrado no dia 28 de junho, o Ministério Público Federal (MPF) promoveu uma roda de conversa para debater a importância da família no processo de acolhimento, inclusão e combate ao preconceito. O evento, que ocorreu via plataforma Zoom e foi aberto à comunidade do MPF e convidados, buscou fomentar o diálogo e expandir a conscientização sobre gênero e sexualidade.
O evento foi mediado pelo procurador da República na Bahia Rafael Guimarães Nogueira, integrante da Comissão de Gênero e Raça do MPF/BA, organizadora da atividade. A roda de conversa contou com o apoio do Portal Dois Terços e do Coletivo Famílias pela Diversidade.
Ricardo Galvão, membro cofundador do Famílias pela Diversidade, relatou alguns desafios que os familiares de pessoas LGBTQIAP+ enfrentam ao lidar com o próprio preconceito e com o da sociedade. “Existe uma falta de conhecimento nessa geração de pais em relação aos filhos. Muitas vezes o preconceito fala mais alto e a gente não abre a cabeça para entender os nossos filhos”, disse, ao compartilhar sua experiência de ser pai de uma mulher trans que revelou sua identidade de gênero de forma aberta no Facebook, pedindo que os amigos adotassem seu nome social na agenda. Ricardo conta que soube da notícia a partir do envio, pela própria filha, do print da publicação para seu Whatsapp.
Sobre o processo de aceitação e acolhimento por parte da família a partir de quando os filhos “saem do armário”, Valéria Saraiva, coordenadora do coletivo e mãe de dois homens – um heterossexual e um gay – , contou que não lidou bem com a notícia sobre a sexualidade do filho quando descobriu que este se relacionava com outro garoto, aos 14 anos de idade. Com o tempo, no entanto, foi deixando de lado o preconceito e hoje ajuda outras famílias a se reintegrarem. “Eu quero ajudar outras mães a não serem preconceituosas como eu fui”, relatou.
Valéria revelou, ainda, sua experiência como ex-esposa de um gay, que é também o pai dos seus filhos. Ela conta que eram casados e integravam uma religião, tendo ambos buscado, juntos, a “cura gay” antes que o ex-marido concluísse seu processo de aceitação da sexualidade. Os dois chegaram a viver juntos no mesmo apartamento por anos, em um acordo que permitiu uma maior integração da família no acolhimento do pai, e do filho.
A ativista também chamou atenção para o fato de que muitos jovens LGBTQIAP+ foram colocados para fora de casa durante a pandemia: “A convivência ficou mais forte. E muitas famílias descobriram que [os filhos] estavam ‘dentro do armário’”.
A temática ainda fez emergir a discussão sobre saúde mental de minorias sexuais e de gênero, aprofundada pelo psicólogo e ativista pelos Direitos Humanos Gabriel Teixeira, integrante da roda de conversa. Um dado da revista científica americana “Pediatrics” revelou que esse público é seis vezes mais propenso a tentar e a cometer suicídio. Para Galvão, “a questão do suicídio ronda sempre o LGBTQIAP+. Ronda antes de se reconhecer, ronda pelo medo de falar. E não é o medo de falar. É o medo de reação da família. Se minha família, que diz que me ama, não me aceita, eu vou fazer o quê?”, reflete o jornalista.
Teixeira ressaltou que a falta de aceitação da sexualidade dos filhos provém, muitas vezes, da falta de aceitação da própria sexualidade dos pais, ainda que sejam heterossexuais. Para ele, o tema ainda precisa ser mais discutido e aceito, de forma geral. O psicólogo pondera que, por outro lado, muitos direitos que dizem respeito à população LGBTQIAP+ vêm sendo alcançados nos últimos anos, principalmente por meio de demandas judiciais. “Quase todos direitos que nós temos na atualidade que produzem um impacto nesse processo da sociedade passam por garantias que vem sendo trazidas a partir do Judiciário”, disse, exemplificando conquistas relativas ao casamento homoafetivo, doação de sangue por homossexuais e educação de gênero e sexualidade nas escolas.
A roda de conversa seguiu com a participação e depoimento de integrantes do MPF, e foi encerrada pela procuradora-chefe do MPF/BA, Juliana Moraes. Ela elogiou as diversas iniciativas que a Comissão de Gênero e Raça vem tendo para levar, ao público da instituição, mais conhecimento, promover diálogos relevantes e abrir espaços de acolhimento para combater o preconceito. “Somente essa condição de que as pessoas possam se manifestar e possam ser aceitas em suas manifestações é que gera uma existência digna. E o papel do Ministério Público é fomentar esse debate.” – ressaltou em sua fala.
Não conseguiu participar do evento? Assista à gravação do evento no canal do MPF/BA no Youtube.